A bebida não é impedimento para sair dirigindo para 41% dos entrevistados em uma pesquisa com 5.250 motoristas, realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Vitória foi uma das cidades que mais chamou a atenção pela soma dos motoristas que foram flagrados depois de consumir bebida alcoólica . O estudo foi realizado também em São Paulo, Diadema, Santos e Belo Horizonte, de janeiro de 2005 a dezembro de 2007, antes da nova legislação entrar em vigor.
O levantamento feito na capital com condutores de carros, caminhões e motos, reprovou motoristas que apresentaram tanto alcoolemia acima dos 6 decigramas de álcool por litro de sangue (15,4%), anteriormente permitido por lei, quanto os que tinham algum nível de álcool no sangue (26,2%). Segundo um dos coordenadores do estudo e responsável pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, os números impressionam. “De todas as cidades a que apresentou o nível mais alto foi Vitória. A média de todas as cidades, foi de 31% e Vitória foi 41%”, contou.
O estudo demonstra ainda que 41% dos participantes nas cinco cidades relataram que preferem dirigir, mesmo após ter bebido, pois considera que o álcool não atrapalha o desempenho ao volante. Destes, 4,4% disseram que dirigem melhor após beberem. Outros 17% consideram uma estratégia razoável sair dirigindo devagar após ingerir álcool e 4,3% acreditam que um simples cafezinho pode minimizar os prejuízos à coordenação motora. Já 9,4% declararam que a medida mais adotada após beber é aguardar um tempo para depois dirigir.
Vários motoristas que apresentavam sinais de embriaguez recusaram-se a participar da pesquisa, portanto os números apresentados no estudo poderiam até ser mais expressivos se a pesquisa fosse obrigatória. Em Vitória, dos 590 motoristas pesquisados, cerca de 370 aceitaram se submeter ao bafômetro.
A gerente de Educação e Estatística de Trânsito do Detran-ES, Rosane Gilberti, lamentou a posição da capital na pesquisa .”Isso só vem demonstrar que não é um privilégio de determinadas cidades A ou B. Existe esse comportamento que é comum a maioria dos jovens, que têm a sensação e alguns que vão além e dizem que se sentem melhores motoristas quando estão com pequenas doses de álcool. Isso é muito preocupante. O álcool desinibe, deixa a pessoa com espírito mais arrojado e tira a sensação de precaução e de segurança que o motorista deve ter”, ressaltou.
Para o representante de telemarketing, Emerson Simões, de 23 anos, depois de consumir bebida alcoólica o condutor precisa esperar um tempo antes de dirigir. “Se a pessoa quer beber, que faça isso em casa e que se ingerir uma garrafa de cerveja, que pelo menos fique em repouso umas seis horas, para fazer o álcool diluir no sangue pelo menos”, opinou.
O estudante Marcos Vinícius Laureano, de 18 anos, disse que o álcool oferece sensação de poder ao motorista.”Você corre demais, entra em curva que não tem que entrar, corta carro, tudo com muito perigo”, relatou.
A partir da pesquisa, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira também destacou que se a polícia não fizer uso do bafômetro nas blitze, será muito mais difícil detectar condutores embriagados. “Dessas pessoas que tinham nível de álcool no sangue, a maioria não pareceria que estava alcoolizada. Os pesquisadores faziam a entrevista e ao final eles mesmos diziam a impressão deles e só depois os entrevistas faziam o bafômetro. Na grande maioria os pesquisadores não identificaram as pessoas com alcoolemia. Isso é para reforçar que é importante o bafômetro”.
A pesquisa revelou um ponto positivo: 70% dos motoristas são a favor de políticas preventivas, que inclui o teste do bafômetro e apenas 15,8% se posicionaram contra o uso do aparelho nas blitze. A Unifesp está planejando repetir a mesma pesquisa em breve, para comparar os resultados depois que a Lei Seca entrou em vigor.