Clonagem grotesca leva pernambucano a receber multas de um veículo, em uma cidade do RJ

O nível de falsificação das quadrilhas especializadas em clonagem de placas chega a ser grotesto e absurdo ao mesmo tempo.

Josué Rodrigues Júnior mostra a multa recebida por suposta infração cometida por um veículo no Rio de Janeiro. O detalhe é que ele possui uma motocicleta. Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press
A ponto da identificação de uma motocicleta, comprada no Recife em abril do ano passado, ir parar em um Fusca que circula na cidade de Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. A história que parece mais uma piada é verdadeira e tem tirado o sono do motorista de uma empresa de turismo Josué Rodrigues da Silva Júnior, 31, dono da moto Dafra, amarela, de placa KJF-2012. Com uma coleção de cinco multas, que somam mais de R$ 1 mil, Josué já deu entrada nos órgãos de trânsito alegando ter sido vítima do golpe, mas desde dezembro aguarda o resultado da investigação. O caso dele está entre os 24 que estão sendo apurados pelo Detran-PE e que foram abordados ontem pelo Diario.

O motorista conta que recebeu a primeira notificação em dezembro do ano passado. A multa por trafegar em velocidade acima do permitido ocorreu no quilômetro 125 da rodovia que corta o município de Paty do Alferes, no dia 24 de novembro de 2008. “Nunca estive no Rio de Janeiro. Até gostaria de visitar a Cidade Maravilhosa, mas depois dessa fico até com medo de ser preso. Sei lá quem estará com meus documentos, andando nesse Fusca”, comentou. Josué Rodrigues está preocupado com a sua situação, já que em março terá que renovar o emplacamento da sua moto. “Não sei se vou poder efetuar o pagamento do IPVA sem computar essas multas. Não tenho dinheiro suficiente para assumir esse prejuízo”, alegou. A moto, comprada financiada, ainda não foi quitada.

Josué informou que a sua motocicleta foi emplacada na própria concessionária. “Paguei todas as taxas e quando fui recebê-la, a placa já estava fixada. A minha dor de cabeça começou no final do ano passado”, lembrou. Por enquanto, o motorista continua saindo com a motocicleta, mas teme ser obrigado a ter que deixá-la na garagem de casa para evitar andar com o veículo de forma irregular, pois pode não conseguir renovar o emplacamento. “O jeito vai ser voltar a andar de ônibus”, lamentou.

“Estou com medo de ser preso por infrações que não cometi. Ando com muita dor de cabeça”
Josué Júnior – motorista

A diretora de operações do Detran-PE, Simiramis Queiroz, informou que o motorista terá que aguardar o processo administrativo aberto junto ao órgão. Se for comprovado que a placa da moto foi realmente clonada, Josué estará livre das multas. Somente após o trâmite, o caso segue para a corregedoria do órgão de trânsito, que irá investigar o envolvimento de terceiros e servidores do estado. “Esse procedimento é regular, acontece em todo e qualquer processo administrativo”, explicou. Segundo ela, nem sempre as denúncias registradas no órgão comprovam que houve a clonagem. “Tivemos um caso onde foi verificado que houve um erro de digitação pelo órgão responsável por emitir a multa e assim a infração acabou indo parar em outro veículo”, justificou.

Segundo Simiramis, no site do Detran-PE (www.detran.pe.gov.br) há informações sobre as empresas cadastradas para fabricar as placas, conforme autorização do Departamento Nacional de Trânsito. O delegado-adjunto deRepressão ao Roubo e Furto de Veículos, Marcelo Guerra, informou que a delegacia especializada continua investigando os casos denunciados. Ele garantiu que todas as hipóteses estão sendo apuradas, inclusive a de envolvimento de funcionários públicos ligados aos órgãos de trânsito. A placa usada pelos dublês normalmente não tem qualquer restrição. E isso, com certeza, as quadrilhas sabem.