
O tema da segurança no trânsito ganha destaque no mês de maio, com a campanha do Maio Amarelo mas desta vez com direito a plágio
A iniciativa, promovida pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), conta com apoio de diversas empresas, entidades e também do governo federal.
No entanto, a campanha deste ano é baseada em plágio de outra realizada em 2013 pela Associação de Parentes, Amigos e Vitimas de Transito – TRÂNSITOAMIGO, entidade de vítimas nacional e internacionalmente conhecida.
Utilizando possivelmente inteligência artificial, a campanha de 2025 do Maio Amarelo foi realizada para o ONSV por uma agência de publicidade de São José dos Campos (SP) — cidade onde trabalhava o atual CEO do Observatório, Paulo Guimarães.
A polêmica surgiu quando os produtores da campanha da TRÂNSITOAMIGO perceberam que as imagens geradas artificialmente reproduziram conceitos e composições gráficas praticamente idênticos aos da campanha lançada em 2013 pela entidade.
A campanha original foi produzida pela premiada agência carioca Camisa 10, com fotos assinadas pelo renomado fotógrafo Márcio Freitas, em caráter “pro bono” — ou seja, sem cobrança de qualquer remuneração.
Todos os envolvidos, desde as equipes de criação e produção até os modelos das fotos, abriram mão do cachê em apoio à causa das vítimas de trânsito e segurança viária.
Entidade de vítimas não foi consultada
Segundo Fernando Pedrosa, publicitário e um dos fundadores da TRANSITOAMIGO, o plágio é grave, especialmente porque não houve qualquer contato prévio do ONSV para solicitar autorização ou discutir o uso do conceito.
“Sempre atuamos em prol da segurança viária e sem buscar lucro. Agora, uma entidade privada, mantida por grandes empresas, usar indevidamente nosso trabalho, em um plágio evidente, é inaceitável.”
Fernando Diniz, presidente da ONG e pai órfão de filho, que sempre lutou pela redução da mortalidade no trânsito, afirmou: “Se tivéssemos sido consultados sobre a cessão do conceito ou mesmo de toda a campanha poderíamos ter atendido, como já fizemos em outras ocasiões”, afirma.
Para Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas e também fundador da entidade, a situação afeta a imagem de todos os envolvidos no setor de segurança viária.
“Empresas como Raízen, Ipiranga, Vibra, Instituto Brasileiro do Petróleo, Uber, IFood, apoiaram a campanha com boa fé, acreditando que haveria um mínimo de autenticidade e cuidado na produção. Pagaram por isso como mantenedores. Na prática, receberam uma campanha com ‘CNH falsa’: ela pertence a outro condutor, a TRÂNSITOAMIGO”, critica.
Senatran e Observatório não se manifestam
O portal Estradas.com.br entrou em contato com a Senatran — órgão máximo executivo do trânsito brasileiro —, que compartilhou a campanha em suas redes sociais, para saber sua posição sobre o episódio. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.
A reportagem também procurou a assessoria de imprensa do ONSV que orientou a entrar em contato diretamente com o CEO Paulo Guimarães, mas não houve retorno até as 19h30.
Campanha plagiada foi traduzida para inglês e francês
O material da campanha, baseado no conteúdo plagiado, está disponível para download em versões em português, inglês e francês. A campanha original foi destaque no Festival de Cannes da época. O fato de divulgar um plágio em outros idiomas, pode indicar que o objetivo era ganhar algum prêmio internacional.

Órgãos de trânsito, Centros de Formação de condutores e empresas mantenedoras do ONSV estão promovendo a campanha em todo o país.
O lançamento oficial será dia 05 de maio e a TRÂNSITOAMIGO não foi convidada pela Senatran para participar do lançamento do Maio Amarelo, com a campanha plagiada. A direção da Associação informou que irá notificar o ONSV formalmente e tomará as medidas legais cabíveis.
Para Rodolfo Rizzotto, é fundamental que o ONSV apresente esclarecimentos e que a Senatran informe se tinha, ou não, conhecimento do plágio.
Veja o vídeo produzido para a campanha em 2013:
O espaço segue aberto para manifestações do ONSV, da agência responsável pela campanha e da Senatran.