Rodovia mais movimentada do Estado, a BR-116 pode exigir quase duas horas de paciência no trecho de cerca de 30 quilômetros entre São Leopoldo e Porto Alegre — tempo suficiente para percorrer um trajeto quatro vezes maior, como entre a Capital e Tramandaí.
Na manhã de segunda-feira, Zero Hora comparou o deslocamento entre as prefeituras das duas cidades em quatro meios de transporte: motocicleta, metrô, carro e ônibus. O passageiro de ônibus leva quase o dobro do tempo gasto por um carro e o mais do que o triplo do despendido por uma moto.
Quatro repórteres partiram às 7h15min da frente da prefeitura de São Leopoldo, no Centro, para avaliar as vantagens e as desvantagens de cada forma de transporte em meio ao crônico congestionamento da rodovia no horário de pico. O levantamento comparou o tempo do percurso, o custo e as dificuldades observadas pelas equipes.
A moto registrou o melhor tempo, com 35 minutos, enquanto o ônibus exigiu uma viagem de uma hora e 47 minutos. Além de ficar uma hora e 27 minutos no coletivo, o passageiro esperou 11 minutos para embarcar e caminhou durante nove minutos do fim da linha, no Viaduto da Conceição, até a prefeitura da Capital.
O trecho mais exasperante para quem anda de carro se concentra em um nó viário de três quilômetros entre o viaduto da Boqueirão e o entroncamento com a Avenida Victor Barreto, em Canoas. Nesse espaço, os automóveis se arrastaram a uma velocidade média de apenas 7,5 km/h. Se toda a viagem transcorresse nesse ritmo, o motorista levaria quatro horas para se deslocar entre as duas cidades.
De carro, o teste foi completado em uma hora — 12 minutos antes da chegada da repórter que usou o trem, que perdeu 17 minutos na parada e no ônibus para se deslocar da prefeitura até a estação.
Trânsito lento
O especialista em Engenharia de Transportes Mauri Panitz, antigo engenheiro residente da BR-116 nos anos 70, avalia em pelo menos R$ 200 milhões o prejuízo anual provocado pela circulação em câmera lenta no coração metropolitano.
— São mais de mil horas de trânsito lento por ano, o que gera uma perda econômica enorme. Se fossem feitas as obras necessárias, elas se pagariam em pouco tempo — argumenta.
Uma sugestão do especialista para desafogar a rodovia é dar continuidade às vias secundárias que margeiam a BR-116 de forma entrecortada da Capital até São Leopoldo.
A coordenadora de Planejamento Urbano da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), Maria Elisabete Gomes de Aguiar, concorda com a sugestão e avalia como possível a realização de melhorias nessas vias. Um dos trechos estudados é a ligação formada pela Estrada Presidente Lucena e pela Avenida Thomas Edison. As vias começam e terminam na BR-116: de Ivoti, passando pelo bairro Scharlau, em São Leopoldo, até o acesso à Unisinos.
O superintendente regional do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), Marcos Ledermann, reconhece que o panorama crítico da BR-116 somente mudará com a conclusão de obras previstas na região até 2010, como a Rodovia do Parque (BR-448), viadutos nos acessos a Sapucaia do Sul e Novo Hamburgo e o alargamento da ponte sobre o Rio Gravataí.
— A situação vai continuar (até a realização das obras), isso é fatal. São obras que requerem muitos recursos, que estão garantidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — informa Ledermann.