“A BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, será entregue até 2011. Mas, de acordo com o ritmo das obras que estão sendo tocadas pelo Exército brasileiro, ela pode ser entregue até mesmo antes, em 2010, quando finda o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma prioridade administrativa da União”.
Com esta declaração, o chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Aluísio Augusto de Queiroz Braga, deixou clara a disposição do ministro Alfredo Nascimento, virtual candidato ao governo do Estado em 2010, de não desistir do propósito de entregar à sociedade amazonense a principal via de ligação com o restante do País, que custará aos cofres públicos R$ 675 milhões.
A posição do chefe de gabinete surpreendeu uma platéia, predominantemente, de ambientalistas, que participou ontem da discussão: “Ferrovia e BR-319, um debate necessário e urgente para o Amazonas”, no auditório da Suframa, no Distrito Industrial.
O ex-secretário da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS) Virgílio Viana, atualmente ocupando o cargo de diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), discordou frontalmente da posição de Aluísio Braga, ao destacar que é “fundamental a discussão de um novo modelo de desenvolvimento econômico para a região, saindo da tradicional fórmula de crescimento a qualquer custo, por meio do escoamento da produção local”.
Como Viana, também o cientista Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), destacou que com a reconstrução da BR-319 – já que o seu traçado original é o mesmo de 1970 -, a região do interflúvio dos rios Madeira e Purus, uma das áreas de maior biodiversidade do Estado, será fatalmente afetada pelo desmatamento, que se seguirá com as facilidades do livre acesso rodoviário. “A região no caminho de Roraima, pela BR-174, bem como a região metropolitana de Manaus, também sofrerão com esta obra”, salientou.
Mas não é desta forma que pensa Augusto Cesar Rocha, do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). Ele entende que a rodovia permitirá o escoamento dos produtos produzidos no Pólo Industrial de Manaus (PIM), que chegariam a um custo menor em São Paulo, o principal mercado consumidor.
Por outro lado, a secretária interina da SDS, Nádia Ferreira, entende que uma ferrovia diminuiria a emissão de gás carbono na atmosfera e evitaria a ocupação desordenada da região. “Temos conversado com o Governo Federal para criar um corredor ecológico na área com várias unidades de conservação. Essa seria uma forma para desestimular as invasões em terras públicas”, afirmou Nádia.