Reportagens recentes da mídia em geral revelam que trafegar pelas principais rodovias federais do Estado de Mato Grosso se tornou uma prática extremamente perigosa. De fato, os registros da Polícia Rodoviária Federal, nos últimos tempos, são notórios por destacar um crescimento de certa forma acentuado nas estatísticas de acidentes e de assaltos.

A exemplo do que ocorre nos grandes centros, em Mato Grosso, os corredores comerciais mais importantes – casos específicos das BRs 163 e 364 – se transformaram em palco de verdadeiras piratarias contra transportadores. Não bastasse isso, trechos das duas rodovias, por onde escoa toda a produção agropecuária estadual e parte do vizinho Pará, também passaram a fazer parte de uma estatística macabra, por conta do elevado índice de acidentes fatais.

É lamentável que, apesar da existência desse “mapa do crime”, as autoridades, estranhamente, se revelem incapazes de controlá-los. Mas, é lamentável também constatar que o Poder Público não é capaz de solucionar problemas que, embora não sejam patrocinados pelas quadrilhas que agem nas estradas, provocam prejuízos consideráveis à economia regional.

Reportagem especial publicada por este Diário, no domingo, mostra essa triste realidade. Com efeito, “vergonha” – para dizer o mínimo – é o principal adjetivo que se ouve quando os motoristas que diariamente transitam pela rodovia 163, principalmente no trecho Norte, entre os municípios de Lucas do Rio Verde e Guarantã do Norte, são questionados sobre as condições da estrada. Faz sentido: a cada época de chuva – como a registrada nos últimos meses -, a situação se agrava. A BR-163, principal meio de escoamento da produção agrícola da Região Norte de Mato Grosso -, tem seu leito deteriorado, em função da infiltração de água e do peso excessivo dos veículos que nela trafegam, como caminhões carregados de madeira e grãos.

O resultado dessa deterioração se reflete no bolso dos próprios motoristas, principalmente os caminhoneiros, que fazem longos trajetos todas as semanas, em época de safra. A opinião deles é unânime: nesta época do ano, a profissão se torna praticamente inviável pelo baixo rendimento de trabalho e lucro.

Em alguns trechos da rodovia, a pavimentação inexiste, enquanto sobram buracos na pista, resultando em estragos na conservação dos veículos. No caso de caminhões, a situação é pior, já que o veículo está carregado e o peso agrava o impacto sobre a pista. Os problemas deixam as viagens, em média, 20% mais caras do que nos períodos em que a rodovia na região está em boas condições.

Há pelo menos duas décadas, a BR-163 é o retrato do descaso governamental. Do Governo tucano de FHC à gestão petista de Lula, essa rodovia tem servido, isto sim, como um imenso palanque eleitoreiro. Sua importância para a economia estadual e nacional, infelizmente, só é lembrada em época de eleição.

Quando a estrada é lembrada, o mínimo que se faz, em matéria de providência, é a já “tradicional” operação tapa-buraco.

A omissão do Poder Público sempre deu margem a que os oportunistas montem seus palanques – por sinal, os mesmos oportunistas que, não faz tempo, estiveram no comando da máquina governamental. É um círculo vicioso que causa prejuízos à economia e provoca a morte de centenas de cidadãos.

“Há 2 décadas, a BR-163 é o retrato fiel do descaso governamental”