Depois de 22 anos de reivindicações e obstáculos, a construção das alças de acesso à Rodovia Fernão Dias finalmente sairá do papel. Na próxima segunda-feira, 2, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, assina o contrato de início das obras, que devem ser concluídas em outubro deste ano, ao custo de R$ 10,2 milhões.
Aurélio Rodrigues Dantas, 66 anos, é um dos cerca de 320 mil paulistanos a se beneficiar diretamente com a mudança. Presidente da Sociedade Amigos da Vila Sabrina, bairro da zona norte de São Paulo, ele luta desde 1985 para que a Avenida João Simão de Castro seja ligada à rodovia. “Os caminhões quebram as ruas, causam trânsito, trazem prostituição para o bairro”, critica o comerciante.
O curto acesso é suficiente para evitar que os cerca de seis mil caminhões trafegando diariamente pela região tenham de cruzar bairros residenciais até a Via Dutra, para só então acessar a Fernão Dias.
“O desvio, em um dia normal, pode ser de até meia hora”, afirma Adauto Bentivegna Filho, assessor da presidência do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp). Segundo João Roberto Paladino, presidente da Associação dos Empresários de Transporte de Cargas do Terminal Fernão Dias, além da economia com tempo e gasolina, o acesso trará sossego noturno e segurança para os moradores.
Do outro lado da rodovia, outras 90 mil pessoas também aguardam ter o deslocamento facilitado. São os moradores da região de Itapegica, em Guarulhos. “Depois da obra, eles não terão de pegar a Dutra para chegar a São Paulo”, comemora o prefeito da cidade, Elói Pietá. O viaduto que liga os dois municípios já foi construído em 1995, quando a obra teve início, com a duplicação da Fernão Dias. Mas, até hoje, ele é inútil, pois as vias de acesso nunca ficaram prontas.
O subprefeito de Vila Maria/Vila Guilherme, Antônio de Pádua Peros a, trabalha há dois anos para o reinício das obras e afirma que não há mais obstáculos. Em dezembro de 2005, a Prefeitura conseguiu a licença ambiental para o projeto. Em abril de 2006, a verba foi depositada em uma conta específica para a obra e, em março deste ano, a empresa Jogefe foi homologada para realizar a tarefa, por R$ 7,6 milhões. Agora, ele já se prepara para as conseqüências da reforma. “Vamos fazer a readequação do viário da região”, diz. Uma passarela e um viaduto já estão em estudo.
Bentivegna, do Setcesp, acredita que não há mais motivos para atrasar a obra. “Se não sair agora, aí é hora de criticar mesmo.” Apesar das décadas de promessas não cumpridas, Dantas, da Sociedade Amigos da Vila Sabrina, está confiante de que, dessa vez, o projeto será concluído. “Já coloquei até um ofício no bolso do presidente FHC (ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) pedindo a conclusão da obra.” Quem sabe dessa vez os moradores, que em 2003 chegaram a interditar a rodovia em um protesto, finalmente respirarão aliviados.
Histórico das obras na Fernão Dias
1985: Construção do Terminal de Cargas, concentrando as transportadoras na região;
1993: Contrato de duplicação da Rodovia e construção do viaduto e alças é assinado;
1995: Duplicação e viaduto feitos;
2003: 800 moradores ocupam a Rodovia em protesto pacífico contra o atraso das obras;
2004: CET constrói alça de saída da rodovia até o terminal. De acordo com o subprefeito Perosa, o contrato era uma ata de registro de preços, que não autoriza a realização de obras;
2005: Subprefeitura conquista a licença ambiental para a obra;
2006: Verba é liberada;
2007: Jogefe é homologada para realizar a construção; prefeitos de São Paulo e Guarulhos assinam contrato.