A expressão “fogo de chão”, utilizada no linguajar gaúcho para se referir ao churrasco feito diretamente em contato com o solo, ganhou significado diferente em Candelária. Um grupo que se batizou de Assadores do Asfalto usou as crateras da RS-400 para assar carne de gado, salsichão e espetos de tomate e cebola no início da noite de ontem.
A churrascada foi a estratégia “cômica diante do trágico” encontrada por motoristas que utilizam a rodovia para protestar contra o estado do asfalto, classificado por eles como intransitável. De fato, a situação da estrada é crítica. A 400, que liga Candelária a cidades como Sobradinho, Arroio do Tigre e Salto do Jacuí, tem buracos de grande porte em toda a sua extensão, a partir do encontro com a RSC-287.
Conhecida tradicionalmente pela buraqueira, a rodovia chegou a um nível alarmante. Em longos trechos os motoristas não encontram outra alternativa senão apelar para manobras arriscadas, invadindo a pista contrária e o acostamento, geralmente tocando com o veículo na vegetação às margens da pista. Sem perspectiva de melhoria nos quilômetros seguintes, os condutores convivem no caminho com placas informando “Degraus na pista” e “Pista com defeito”.
Nas partes em piores condições a área esburacada chega a ser maior que a superfície que ainda acumula alguma camada de asfalto. “Entorta a roda, gasta a pastilha de freio e consome muito mais combustível, já que a gente tem que andar, muitas vezes, em primeira marcha, parando o tempo todo”, diagnostica a dentista candelariense Claudia Adriana Müller, organizadora do protesto desta terça-feira.
Ela, que usa a RS-400 toda semana para se deslocar até Sobradinho, se inspirou no protesto feito pelo irmão, na semana passada, na mesma rodovia. Ontem, o churrasco reuniu cerca de 40 pessoas em Vila Passa Sete, entre os municípios de Candelária e Passa Sete. Os assadores improvisaram um latão dentro de um grande buraco da pista, e ali botaram a carne para assar.
ANIVERSÁRIO
Em outras três valas também foram armadas fogueiras, deixando a rodovia livre em apenas um sentido. Os motoristas que por lá passavam gritavam mensagens de apoio à manifestação. “A cada viagem a gente fica com a cabeça estourando por causa do atraso, dos transtornos. Se fizessem uma manutenção bem feita não teríamos esse problema de a cada chuva os buracos abrirem mais”, entende Cláudia.
A reclamação é de que há meses o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) não faz sequer uma operação para tapar as crateras de forma emergencial. “Da próxima vez vamos trazer um bolo pra comemorar o aniversário da buraqueira. Isso aqui é uma vergonha”.
O motorista Joni Bratz, que passa diariamente de caminhão pelo local, concorda com a dentista. “Faz mais de meio ano que isso está assim e piora toda vez que chove”, afirma. “Um trecho de 50 quilômetros, que rodaríamos em pouco mais de meia hora, está levando uma hora e meia, pelo menos.” Segundo os manifestantes, os protestos vão continuar nos próximos meses enquanto não houver uma solução para o problema.