Sono e direção não combinam. E as estatísticas comprovam este descompasso. Estima-se que três em cada dez acidentes nas estradas brasileiras são causados pelo cansaço dos motoristas. Para quem vai pegar a estrada neste final de ano, a Polícia Rodoviária Federal recomenda uma parada a cada três horas ao volante. Quem se expõe a muitas horas dirigindo fica sujeito ao fenômeno da “hipnose rodoviária”: o condutor se mantém de olhos abertos, mas sem percepção da realidade à sua volta. Ela vem acompanhada de sonolência, perda de reflexos e de força motora.
Pelo menos 30% das mortes nas rodovias e 20% dos acidentes são provocados por motoristas com algum distúrbio de sono. A constatação está na pesquisa Morte no trânsito – Tragédia rodoviária, realizada em 2004, pelo Programa SOS Estradas (ligado à Revista das Estradas). Exaurido por dirigir horas a fio, o motorista demora em identificar uma situação perigosa e reagir a ela.
Há mais de 80 distúrbios de sono catalogados. Entre os portadores a queixa mais comum é a insônia. “A pessoa que tem um distúrbio de sono de qualquer natureza deve evitar dirigir pelas rodovias. Sem procurar um médico e corrigir o distúrbio não se deve pegar a estrada”, alerta o coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Português, o médico Francisco Horta Fontes.
Ele chama a atenção para o fato de que países como França, Estados Unidos e Inglaterra já exigem que os futuros condutores passem por exames, como os de polissonografia, que avaliam o grau de sonolência ao tirar a carteira de habilitação. “Este é um problema muito grave e que resulta em acidentes fatais todos os dias”.
Arrebites – Fontes é categórico: “Se sentir sono, procure estacionar em algum lugar seguro e durma”. Existem motoristas profissionais e caminhoneiros que precisam entregar mercadorias em determinados prazos e acabam tentando resistir à sensação de sonolência e acabam utilizando as anfetaminas, popularmente conhecidos como arrebites.
Inibidores de apetites, estes medicamentos provocam a sensação de energia e podem deixar um indivíduo acordado por dias. “Temos registro de uma pessoa que ficou até oito dias sem dormir utilizando esta medicação”, informa Fontes. O problema é quando passa o efeito. “A pessoa simplesmente apaga. O sono acumulado cai de vez e isso pode acontecer enquanto o motorista está dirigindo e provocar um acidente”, explica a psiquiatra Ana Virgínia Paiva.
De tarja preta, estes medicamentos só podem ser vendidos sob prescrição médica. Mas são vendidos ilegalmente em farmácias, postos de gasolina e borracharias nas estradas. As seqüelas do uso prolongado são extensas: idéias delirantes, alucinações, sensação de perseguição, agitação e agressividade, dilatação da pupila e distúrbios visuais. Combinações deveras perigosas para quem está ao volante na estrada.
DICAS
Antes de viajar, procure dormir bem;
nunca viaje cansado;
evite dirigir mais que oito horas por dia;
planeje a viagem para evitar dirigir à noite;
prefira alimentos leves;
evite viajar sozinho;
reveze com outro motorista a condução do veículo;
pare sempre que sentir cansaço e durma se puder;
não beba nem tome remédios que afetem os sentidos.
Fonte: Programa SOS Estradas