A Paraíba foi o Estado que apresentou a maior variação percentual da taxa de mortalidade por causas externas (acidentes de trânsito, suicídios e homicídios) no período de 2001 a 2004, superando até o índice nacional. A taxa paraibana foi de 51,4%, enquanto a de todo o
País foi de -0,4%. No que se refere a acidentes de trânsito, essa variação foi de 43,5% no Estado e de 8,3% no Brasil. Esses dados fazem parte da publicação Radar Social 2006, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que traz um panorama geral dos principais problemas sociais brasileiros. Segundo os órgãos responsáveis pelo trânsito, os acidentes são causados por três fatores principais – condutor, condições climáticas, via e veículo. Mas, os grandes responsáveis pelos desastres são os motoristas, que respondem por cerca de 85% dos acidentes.

O Estado ainda ocupa a segunda posição, ficando atrás apenas do Maranhão, no quesito mortes causadas por acidentes de transporte. De acordo com os dados da publicação, em 2001, a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito na Paraíba foi de 12,8 pessoas em cada grupo de 100 mil habitantes. Em três anos, esse número subiu para 18,4. Já o índice nacional foi de 18 pessoas em cada grupo de 100 mil em 2001 e 19,5, em 2004.

A publicação do Ipea revela também que as causas externas foram responsáveis em todo o País por 14,6% das mortes em 2001 e por 14,2% das mortes em 2004. Os óbitos, de acordo com o estudo, possuem grandes diferenciais por gênero e idade: 84,4% das vítimas são do sexo masculino e 50% na faixa etária de 20 a 39 anos. A pesquisa destacou ainda a elevação das taxas de mortalidade por causas externas em três Estados, sendo 51,4% na Paraíba, 23% em
Minas Gerais e 18,7% no Pará.

No Estado, durante o ano de 2004, morreram vítimas de causas externas 14,6 mulheres em cada grupo de 100 mil habitantes. Já entre os homens, esse índice é quase sete vezes maior, com 95,6 mortes. Em 2001, esse número era de 10,5 mulheres mortas e 62,6 homens em cada grupo de 100 mil. O que fez com que houvesse uma variação nesse período de três anos de 38,6% entre o número de mulheres mortas e de 52,7% entre o de homens.

VÍTIMA

O estudante Lásaro Lamarque faz parte das estatísticas dos paraibanos que morreram vítimas de acidente de trânsito. O jovem tinha 18 anos, quando no dia 5 de março de 2004, por volta das 21h40, morreu depois que o carro que vinha dirigindo capotou. O pai da vítima, Renato Araújo, contou que o filho tinha ido lanchar com mais três amigas em um shopping da capital. Quando retornavam para casa, pela BR-230, Lásaro foi ultrapassar um ônibus e acabou
batendo na divisória da pista. Depois da batida, o carro capotou e o estudante foi arremessado para longe.

Lásaro ainda chegou a ser socorrido, mas acabou morrendo no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena. As garotas que estavam como ele no carro não sofreram nada.

“Depois do acidente disseram que ele estava com vida, mas eu pessoalmente sabia que ele não sobreviveria. Tentamos de tudo, mas não adiantou”, afirmou Renato.

O pai de Lásaro contou que o filho dirigia desde os 13 anos, era muito prudente e não costumava correr, por isso, diz não acreditar que a causa do acidente tenha sido alta velocidade. “As meninas que estavam no carro disseram que ele estava sem o cinto de segurança. Mas eu não acredito, pois eu andava com ele e sempre me dizia ‘painho coloque o sinto’”, comentou. A mãe do garoto, Madalena Ferreira disse que o filho morreu por um fatalidade. “Ele morreu, porque chegou a hora”, destacou.

O jovem era o orgulho dos pais. Passou em primeiro lugar para o curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e um ano depois foi aprovado na 21º lugar para o curso de Medicina, na mesma instituição de ensino. “Meu filho era uma pessoa tranqüila,
maravilhosa, que vivia para estudar. É tanto que no primeiro vestibular que fez passou”, disse. Ele lembrou ainda que Lásaro iria começar a cursar Medicina no semestre em que aconteceu o acidente.

“A vida do homem acaba ao perder um filho. Hoje, sobrevivo fingindo que estou na Terra”, comentou, Renato Araújo, lembrando que “o natural da vida são os pais morrerem antes dos filhos e não o inverso”. A mãe do garoto disse que tem mais três filhos, mas que hoje vive com a dor da perda, que classifica como “a dor pior que um ser humano pode suportar”. Ela contou que tem dias “em que aparece aquela saudade terrível”, mas que vai administrando dia
após dia.