Pneus carecas, carros antigos com chaparia velha, faróis quebrados e palhetas que não funcionam. Parece demais, mas muitos veículos que realizam transporte clandestino no dia-a-dia, e mais ainda durante os feriados, apresentam pelo menos um destes problemas. Despreocupados com as condições de segurança na viagem, passageiros preferem pagar um pouco mais barato e chegar logo ao destino, mesmo correndo risco de morte. Ontem pela manhã, no trecho próximo à Brasilgás, na BR-324, diversos motoristas de automóveis ilegais tentavam ganhar os clientes, anunciando em voz alta os destinos e preços das passagens.


O ponto já é fixo e escolhido pelo fato de estar próximo a uma parada de ônibus que reúne possíveis clientes. Quem ajuda os motoristas a conquistar os passageiros ganha, em média, R$1 de comissão. Com isso, se forma um verdadeiro zum-zum-zum, de motoristas que gritam de um lado e “comissionados” que anunciam de outro. Os clientes conquistados geralmente não procuram saber a origem do veículo, inclusive se é roubado, se o motorista está capacitado para dirigi-lo com porte da carteira de habilitação ou ao menos se o carro dispõe de documentação. E ignoram outros itens tão fundamentais para a segurança, como a data de validade do extintor de incêndio, funcionamento dos freios e se o veículo conta com faróis que funcionam, luz de freio, de ré, entre outros requisitos de proteção.


Além disso, ainda existe a superlotação, condição problemática para quem usa o transporte irregular. Se um veículo tem capacidade para transportar uma média de 17 pessoas, ele passa a carregar um número superior, podendo chegar a 25. Além do desconforto, nem todos usam o cinto de segurança, o que aumenta o risco. Em caso de acidentes graves e mortes, não há o que se fazer, nem como punir os culpados.


“O maior problema do transporte clandestino é que, caso aconteça algum acidente, ninguém é responsabilizado. Não há os trâmites normais de ações de indenização da família, por exemplo, e não se encontra o responsável”, frisa o diretor de fiscalização da Agência Estadual de Regulação de Transportes da Bahia (Agerba), Aginoel Aquilino dos Santos. No caso das empresas que possuem o alvará de funcionamento da Agerba, isso não acontece, pois são empresas registradas, que efetivamente existem, e se preocupam com as normas de segurança. “Isso porque, em caso de acidentes, elas podem ser responsabilizadas”, destaca o gestor.


Indiferença – A aposentada Maria Eulina dos Santos, 68 anos, costuma ir todos os feriados para Santo Antônio de Jesus, a 252km de Salvador, e, por diversas vezes, optou pelo transporte clandestino. “É mais rápido, a gente chega logo”, diz ela. Maria Eulina é mais uma dos usuários do transporte irregular que não observa os itens de segurança do veículo. “Realmente eu nunca pedi para olhar o extintor e até mesmo se o motorista tem carteira de habilitação”, frisa.


Mas nem todos pensam assim. O estudante Jair Melo, 19 anos, que ontem aguardava um ônibus para Feira de Santana, a 112km de Salvador, diz que não costuma optar pelo transporte clandestino. “Eu tenho medo, acho que não compensa, a diferença de preço não é muita e pode ser perigoso”, diz. Melo conta, inclusive, que já ouviu falar de assaltos por parte de clandestinos que não eram motoristas efetivos. “Já ouvi falar de gente que teve tudo roubado, inclusive as roupas”, acrescentou.


Segundo a Agerba, blitze são feitas diariamente nas rodovias federais e estaduais para a captura de veículos clandestinos. De janeiro a setembro deste ano, foram apreendidos, em todo o estado, 1.685 veículos que não portavam a licença do órgão para circular. O órgão regulador informou ainda que circulam, em média, no trecho Salvador-Feira de Santana, na BR-324, dois mil veículos clandestinos. Neste feriado, a operação está focada nos trechos entre Eunápolis e Porto Seguro, na rodovia BR-367, e entre Eunápolis e Teixeira de Freitas, na BR-101. Só na última quarta-feira, primeiro dia da operação, foram apreendidos oito veículos ilegais