Mudança vale para ônibus no trecho entre os km 78 e 210 e foi adotada pelo DER após pressão de empresas

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Estado de São Paulo aumentou o limite máximo de velocidade para ônibus trafegarem na Rodovia Castelo Branco de 90 km/h para 100 km/h. A alteração vale para um trecho de 132,1 quilômetros, entre o km 78,2, em Sorocaba, e o km 210,3, em Botucatu, e preocupa especialistas. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Flávio Adura, qualquer aumento de velocidade cria um risco maior de acidentes.

“A cada três acidentes graves, um é provocado pela velocidade”, alerta. A alteração foi feita pelo DER, após pedido das empresas de ônibus que querem cumprir os horários e precisam andar mais depressa.

De acordo com o Relatório Internacional sobre Programas de Prevenção de Acidentes nas Estradas, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento de apenas 1 km/h resulta em acréscimo de 3% em ocorrências de acidentes com feridos. Além de 4% a 5% mais acidentes com mortes.

“O aumento no limite de velocidade em 10 km/h para ônibus na Castelo Branco expõe os motoristas”, explica Adura. “Os ônibus são operados por condutores que sempre são pressionados a cumprir a jornada de trabalho sem atrasos. Somem-se a isso a fadiga e o sono, e os riscos aumentam.”

ESTATÍSTICAS

Dados do DER mostram que o número de acidentes envolvendo ônibus nos 132 quilômetros em teste na Castelo Branco está estável, se comparado com o mesmo período do ano passado. Entre os dias 12 de julho e 8 de agosto de 2007, ocorreram no trecho dois acidentes com ônibus. Sem vítimas. Mesmo número registrado no período equivalente deste ano, com o novo limite de velocidade já valendo. A alteração teve início em 10 de julho.

Especialistas em tráfego alertam também para a excessiva confiança nos equipamentos, que leva motoristas a abusarem da velocidade e, conseqüentemente, sofrerem um risco maior de acidentes. Companhias de seguros chamam isso de “homeostase de risco”. Carros com freios ABS, por exemplo, apresentam índice de acidentes semelhante aos sem ABS, porque os motoristas inconscientemente compensam o veículo mais seguro com hábitos de condução menos seguros. Em seus 302 quilômetros, a Castelo Branco ainda apresenta problemas de neblina em toda a extensão e ventos laterais na região de Boituva, no km 113.

DIMINUIÇÃO

Um trabalho desenvolvido pelo governo inglês mostra que, a cada milha reduzida no limite de velocidade, o número de acidentes cai 6%. O conselho foi seguido na Anchieta, que desde 1º de abril teve o limite máximo de velocidade reduzido de 110 km/h para 90 km/h, para todos os tipos de veículos. A restrição aos motoristas vale entre os km 10 e 24 e foi adotada em conseqüência do excesso de acidentes registrados no trecho.

De acordo com a Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp) e a Ecovias, que administra a estrada, antes da mudança havia quatro acidentes diários. A concessionária, porém, não informou quantos são hoje em dia.