O Estradas.com.br está entrevistando pré-candidatos nestas eleições, de diferentes partidos políticos e estados, que tenham compromisso com a redução de acidentes. Por incrível que pareça, num país com mais de 40 mil mortos por ano e pelos menos 400 mil feridos, o tema não tem sido prioridade da maioria dos políticos brasileiros. Marcos Traad faz parte desse pequeno grupo de políticos comprometidos com a redução da violência no trânsito. É pré-candidato a deputado estadual no Paraná.

Pré-candidato a deputado estadual no Paraná, Traad foi diretor-geral do Departamento de Trânsito do Paraná (DetranPR), entre 2011 e 2018. Nesse período (2015-2017), foi também presidente da Associação Nacional dos Detrans (AND), que reúne os dirigentes dos departamentos de trânsito dos 27 estados brasileiros e do Distrito Federal. Neste âmbito, desenvolveu estudos e adquiriu experiência para tratar de temas voltados à mobilidade, segurança viária, crescimento das cidades e logística. Com a palavra Marcos Traad:

1. Quais são os destaques da sua administração no Detran do Paraná?

R: Fizemos uma administração ampla, em todos os setores e para todos os segmentos que mantém relações com o DetranPR. Destacando, o Detran Fácil, projeto que foi criado para reduzir o acesso ao atendimento no balcão, para serviços que podem ser resolvidos pelos meios tecnológicos (site, aplicativos, etc.). O Detran Fácil já bateu a marca dos 18 milhões de processos concluídos e isso levou o nível de satisfação dos usuários de 40% em 2011, para cerca de 85% em 2018. Os avanços para os servidores também foram significativos, inclusive com a utilização de recursos de avaliação e de mérito para definir a gratificação para cargos gerenciais. Há, com certeza, muitos outros. Para tanto, eu sugiro que consultem os relatórios de gestão no site www.detran.pr.gov.br. O de 2017, reúne indicadores e resultados desde o ano de 2011.

2. O que podemos fazer para reduzir os acidentes no Brasil, particularmente nas rodovias?

R: Na minha opinião, os acidentes são reduzidos de forma drástica, seguindo uma premissa muito simples: “é preciso que haja a efetiva consciência sobre os efeitos da minha atitude individual sobre o coletivo”. Há evidências de que 95% dos acidentes de trânsito ocorrem por falhas humanas. Se passarmos a nos policiar mais, a ter mais respeito à sinalização a não transgredir o que já estamos cansados de saber que mata e sequela, o resultado será efetivo. Eu costumo dizer que tudo seria muito melhor do que a punição no nosso trânsito, caso o nosso comportamento passasse a ser outro. Mas, diante desta calamidade que nos assola e que leva cerca de 50 mil vidas todos os anos, fiscalizar e punir ainda é necessário. Rodovias em melhores condições e bem sinalizadas, atividades contínuas em educação para o trânsito, com investimentos feitos de forma ética e transparente, além da fiscalização e do respeito mútuo, podem nos dar resultados de fato.

3. De que forma os parlamentares podem ajudar nos legislativos estaduais e federal para aumentar a segurança no trânsito e reduzir os acidentes?

R: No nível federal, que é o que de fato tem a atribuição de legislar sobre a matéria, deve haver mais objetividade e principalmente conhecimento dos nossos Deputados e Senadores. No mínimo eles deveriam dar mais atenção a quem tem a real noção do que acontece no dia a dia, para que as leis sejam mais equilibradas e efetivas. O nosso código de trânsito é uma peça importante para nortear as ações das autoridades de trânsito no país. Ele precisa ser atualizado sempre. Para tanto, é necessário que os assuntos técnicos sejam bem discutidos com quem entende. Vez por outra somos surpreendidos por leis que são inexequíveis. Aqui, cabe sempre uma pergunta que eu sempre faço e a resposta traduz numa total irresponsabilidade do poder executivo federal: “qual o motivo dos deputados federais, não exigirem os investimentos obrigatórios do Funset (fundo que arrecada 5% de todas as infrações aplicadas no país) em educação para o trânsito e segurança viária”?

No âmbito do legislativo estadual, aprovar e fiscalizar orçamentos para investimentos em segurança viária em geral é atribuição nobre. Tem que haver este compromisso e o conhecimento da matéria novamente é fundamental. Além disso, a interlocução com o congresso nacional é importante para mediar investimentos nos estados, coisa que nem sempre acontece. Eu adquiri uma larga experiência em 7 anos e 3 meses como Diretor Geral do DetranPR, conheci e interagi com todos os segmentos ligados ao setor, como pré-candidato a deputado estadual eu terei um compromisso velado com a matéria, com certeza.

4. Nos últimos anos as vítimas de trânsito estão participando cada vez mais e exigindo políticas públicas que permitam reduzir a violência no trânsito. Qual a importância dessa participação e como isso pode e deve ser estimulado?

R: Não há dúvida quanto à necessidade de participação da sociedade organizada. Vamos fundamentar a pergunta da seguinte forma: “é preciso que todos saibam que investimentos em educação para o trânsito e segurança viária, são obrigatórios, a partir dos recursos arrecadados com as infrações de trânsito. Assim, a sociedade tem o direito de saber como estes recursos estão sendo utilizados por todos os poderes executivos no Brasil (Governos municipais, estaduais e federal)”. Instituir grupos de debates, fiscalizar o destino dos recursos, ampliar a oferta de materiais didáticos e etc., é fundamental para reduzir a violência do trânsito. No entanto, eu insisto, de nada adianta apenas cobrar dos governos, é preciso que façamos a nossa parte com a palavra de ordem que mais poderá salvar vidas: RESPEITO!

5. Além do consumo de álcool outro problema grave da sociedade atual é o uso de drogas por condutores. O que pode ser feito para combater esse uso e como foi a experiência do Detran do Paraná a partir da obrigatoriedade do exame toxicológico para condutores das classes C, D e E?

R: A questão que envolveu o exame toxicológico de larga janela foi muito polêmica. Eu, particularmente, fui um dos que apoiou a iniciativa, sob a ótica da efetividade científica da determinação. Álcool e drogas ao volante são provavelmente as principais causas da fatalidade no trânsito. Quando considerados os acidentes nas rodovias, os números são estarrecedores e os veículos pesados evidenciam-se como a grande causa de vitimados em massa, apesar de a frota ser muito pequena em relação aos demais veículos leves e médios. Os nossos caminhoneiros são submetidos, muitas vezes, a uma intensidade de trabalho que é inconcebível. Todos temos visto notícias sobre o uso de substâncias psicoativas para enfrentar a jornada de trabalho. Em que pese o fato de que a maioria dos condutores das referidas categorias é de extrema responsabilidade e não se utiliza destes artifícios para trabalhar, o legislador que tratou da matéria, buscou o meio da prevenção para minimizar os impactos sobre a vida. A experiência do Paraná para o cumprimento da lei do toxicológico foi bem sucedida, apesar de muitos transtornos iniciais sobre a operacionalidade do processo, tendo em vista que a responsabilidade pelo credenciamento dos laboratórios foi exclusiva do Denatran.

Mais informações: www.marcostraad.com.br