Forças policiais admitem que a rota do tráfico em Minas Gerais é viável e consistente, devido à fragilidade na vigilância das fronteiras. Em conta-gotas ou em grandes carregamentos, drogas de todos os tipos invadem o quarto maior Estado do país em extensão territorial. São mais de 586 mil km², o equivalente à área da França.

Nos últimos seis anos, a Polícia Civil recolheu, somente na capital e na Grande Belo Horizonte, aproximadamente 13 toneladas de maconha, além de cocaína, crack, haxixe, LSD e comprimidos de ecstasy. No entanto, o número de apreensões poderia ter sido maior, se houvesse mais rigor na fiscalização das divisas do país e dos limites estaduais.

Para o delegado Bruno Zampier, chefe do Núcleo de Operações da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Federal em Minas, a passagem de drogas pelo território mineiro é recorrente.

– Drogas vindas da Bolívia, maior produtor de cocaína do mundo, e do Paraguai e que têm como destino o litoral brasileiro por via terrestre obrigatoriamente passam por Minas.

O delegado lembra que o Estado fica no centro do país e, por esse motivo, não seria necessariamente o destino dos entorpecentes.

Zampier considera que a questão vai muito além da fiscalização nas estradas.

– Hoje, oito grandes organizações criminosas que agem em Minas estão sendo investigadas.

Para ele, o Governo federal deveria adotar ações mais efetivas para combater a entrada de drogas no Estado e no restante do país, como a ampliação do número de policiais.

– Aviões de pequeno porte aterrissam diariamente em pistas clandestinas localizadas no interior de Minas Gerais e de São Paulo.

O inspetor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Aristides Júnior explica que, apesar de não existirem medidas específicas para reprimir a circulação dos entorpecentes, a corporação tem conseguido barrar o tráfico. De janeiro de 2009 até março deste ano, foram apreendidas mais de duas toneladas e meia de maconha, cerca de 170 quilos de cocaína, 3.822 unidades de anfetaminas e aproximadamente 5 kg de crack nas vias sob responsabilidade da PRF.

– Houve 127 ocorrências e 115 pessoas acabaram detidas.

Aristides Júnior considera a BR-262 – que liga Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Mato Grosso do Sul – é a rodovia mais problemática.

Delegacias e servidores são insuficientes

A dificuldade de combate ao crime pela rota terrestre não decorre apenas da fiscalização precária de estradas e divisas. Há, também, investigação “de menos” por falta de pessoal e de estrutura. A Polícia Civil conta atualmente com sete delegacias especializadas e 115 servidores para apurar ações relacionadas ao tráfico na capital mineira e na Grande BH.

Mas a delegada Andréa Ferreira, do Departamento de Investigação Antidrogas, adverte que o papel da instituição não é evitar o tráfico.

– Nossa atribuição é apurar os crimes ocorridos e não preveni-los.

E cobra maior rigor nas fiscalizações porque, na sua opinião, as rodovias que cortam o Estado estão livres para o vaivém das drogas.
Andréa Ferreira também defende mais investimentos na vigilância das fronteiras internacionais e em operações preventivas da Polícia Militar.

A delegada completa o diagnóstico com críticas à falta de integração entre as polícias, ao déficit no quadro de agentes, à insuficiência de verbas federais para repressão qualificada e para a área de inteligência das corporações e, por fim, à demora do Judiciário e do Ministério Público na apreciação de inquéritos contra traficantes.

Desafios

A fiscalização precária por parte da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal marca, para o professor de sociologia da PUC Minas Luís Flávio Sapori, a facilidade encontrada pelos criminosos para fazer de Minas Gerais uma rota para o tráfico.

– É preciso treinar melhor os agentes para o patrulhamento nas rodovias, investir em blitze preventivas e fortalecer o monitoramento das fronteiras.

Sapori também é secretário-executivo do Instituto Minas pela Paz.

De acordo com o assessor de comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais, capitão Gedir Rocha, a instituição não está de braços cruzados em relação ao problema da passagem de drogas pelo Estado.

Rocha lembra que há quatro anos Minas executa um projeto chamado “Cinturão de Segurança”, que contempla atualmente 390 cidades localizadas nas divisas estaduais.

– A missão é coibir a criminalidade. Mas, em especial, o tráfico de drogas.

Nesses municípios fronteiriços, as equipes foram dotadas de viaturas, armas e coletes à prova de bala, além de um kit operacional composto por cones, lanternas e material de isolamento.

Além disso, o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), atingiu no início do ano cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes. O capitão explica que o objetivo do Proerd é prevenir o uso de entorpecentes e a violência entre jovens. A iniciativa foi levada para 543 municípios, envolvendo 3.736 escolas públicas e privadas. Já a Polícia Civil ganhou no ano passado um laboratório de lavagem de dinheiro, que funciona com um serviço de inteligência para investigar o destino dos recursos obtidos com o tráfico, além de quatro delegacias remodeladas para o trabalho de investigação.

Destino importante das drogas que passam por Minas, o Rio de Janeiro promete dar uma contribuição para obstruir essa rota do tráfico. Autoridades fluminenses pretendem comprar no primeiro semestre deste ano escâneres digitais para a fiscalização de veículos nas divisas do Estado. Semelhantes aos usados pelo governo americano na fronteira com o México, os aparelhos poderão auxiliar a detectar a presença de armas, drogas e outros produtos ilegais.