Vovôs ao volante: independentes, eles ainda têm muito gás para gastar

Aos 84 anos, o corretor imobiliário Nélson Paes tem dois carros na garagem de casa. O Kadett ele usa para viajar. Pega a estrada para visitar as filhas, que moram em Assis. Mas o que chama de relíquia é um Fusca quadro portas de 1970, mais conhecido como “Zé do Caixão” por causa do formato quadrado, parecido com um caixão.

A idade não é vista como problema para Nélson. Pelo contrário. Ele conta que, mais velho, ficou também mais cauteloso, o que no trânsito é uma vantagem. “Quando era mais novo era mais atirado. Tive lá meus problemas”, diz. “Com a experiência, aprendi com os erros. E dirigir é ter cuidado.”

Dados do Renach (Registro Nacional de Carteira de Habilitação) mostram que o número de motoristas habilitados com mais de 80 anos subiu 112% entre 2003 e 2006 – de 94 mil para 199 mil.

“Já conheci motoristas com mais de 90 anos”, conta o presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Bauru, Mário Paz. Ele concorda com Nélson ao opinar que os mais velhos dirigem melhor que os muito jovens. “São capazes de loucuras”, diz Recentemente, Mário escapou por pouco de uma dessas loucuras. Estava na avenida Rodrigues Alves quando um jovem motorista tentou uma conversão proibida, perdeu o controle do carro e rodopiou na pista.

O envelhecimento da população brasileira, conseqüência da elevação da expectativa de vida, é a explicação mais lógica para o aumento de motoristas idosos. Além disso, com os modelos populares e a expansão do crédito, o carro tornou-se um bem de consumo mais acessível.

A pensionista Isabel de Oliveira Medina, 77, dirige um Pálio 1997. Conta que o carro está bem conservado, mas faz planos de comprar um zero quilômetro ano que vem.


Nunca bati, nem levei multa , conta Isabel
O Código de Trânsito não impõe restrições de idade a motoristas. A diferença para os mais velhos é a periodicidade dos exames de aptidão física e mental para renovação da carteira.

Os condutores com mais de 65 anos precisam fazer os exames de três em três anos. Para os demais motoristas é de cinco.

“Nunca bati, nem levei multa”, diz Isabel de Oliveira Medina, 77. E olha que ela gosta de correr. Nas rodovias, ultrapassa fácil os 100 km/h.

Nos últimos anos decidiu tomar mais cuidado, por causa da grande quantidade de radares e também por achar que hoje em dia os acidentes são mais comuns. Isabel tem bastante experiência na direção. Quando o marido era vivo, era a “motorista” dele. “Adoro dirigir”, diz. “Graças a Deus, sempre procurei ser independente e quero continuar assim.”


Ex-policial vai à faculdade de carro
O coronel Domício da Silveira tem um orgulho: aos 87 anos não precisa usar óculos. Lê, manda mensagens pelo computador e dirige seu Citröen sem nenhum problema.

Domício diz que o fato de enxergar bem e a força muscular nos braços fazem dele um bom motorista, apesar da idade.

A boa visão é explicada pela genética e por uma cirurgia de correção de catarata, há 20 anos. Os braços bem trabalhados, como diz, são consequência do esgrima, que ele pratica e ensina no Bosque da Comunidade, nos finais de semana.

Ele usa o carro para frequentar a Universidade da Terceira Idade, na USC. Policial militar e advogado aposentado, Domício gosta de dirigir, mas também de fazer caminhadas.