Lotação clandestina, perseguida na Dutra, colidiu com caminhão; duas pessoas ficaram feridas

Um motorista foi testemunha de um acidente de trânsito na quinta-feira, 9, na rodovia Presidente Dutra. Ele contou à Reportagem que uma van clandestina (Iveco Fiat) da linha Ponte Alta/Centro foi perseguida por um carro de fiscais da Prefeitura (Gol preto Geração 3, placas CTB-3527 – identificado com um pequeno adesivo da Prefeitura). Na tentativa frustrada de escapar da fiscalização, o motorista da van desembarcou cerca de 20 passageiros e, naquele momento, a fiscalização conseguiu alcançá-la. A lotação, entretanto, bateu em um caminhão e tombou na altura do km 220 da rodovia.

O carro foi imediatamente removido pela equipe da NovaDutra (concessionária da Rodovia) e as duas vítimas – entre elas, o cobrador – , foram encaminhadas para o Hospital Municipal de Urgências (HMU), com ferimentos leves.

Essa perseguição, batizada de “bate-pau”, é comum na gíria dos perueiros. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Lotação e Similares de Guarulhos (Sind-Lotação), Cícero Sebastião de Araújo – o Mossoró, a operação é feita por policiais militares que, além de perseguirem essas lotações em alta velocidade, espancam os funcionários. Mossoró é a favor da fiscalização, mas entende que não é necessário usar a violência com os condutores. “Já vi muitos pais de família chorarem porque apanharam”.

A situação dos “bate-paus” também foi confirmada por um policial militar da cidade (que prefere manter sua identidade sob sigilo). Segundo ele, a ação é comandada por um coronel aposentado da PM, que trabalharia na Guarupas (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Guarulhos Região) e contrataria policiais militares para ajudar na fiscalização. Quando estão de folga trabalham à paisana, com armamento da própria Polícia e realizam as autuações.

A Guarupas explicou, por meio de nota, que mantém um Termo de Cooperação com a Prefeitura de Guarulhos, fornecendo apenas veículos e radiocomunicadores para auxílio na fiscalização.

Prefeitura: “Clandestinos não são fiscalizados só com apito”

A diretora da Secretaria de Transportes e Trânsito, Cristina Maria Afonso, explicou que, de fato, existe um acordo entre a Secretaria, Guarda Civil Municipal (GCM) e Guarupas, por meio do qual todos colaboram com a fiscalização.

O Termo de Cooperação assinado entre a Prefeitura e a Guarupas prevê, na cláusula segunda: “As partes seguirão exercendo as respectivas competências, através de pessoal próprio, sem interferência de uma na atividade da outra, sem prejuízo dos poderes nos quais se encontram investidos os agentes da fiscalização municipal, competentes para a referida fiscalização, em geral, incluindo as atividades dos associados da Guarupas e sobre outros transportadores, inclusive clandestinos, sobre os quais não podem atuar os agentes particulares”. Portanto, a Guarupas não pode agir diretamente contra o transporte clandestino de passageiros. Na cláusula quinta, consta que a fiscalização da Guarupas segue orientação dos agentes públicos.

Sem explicitar como os agentes municipais são orientados a agir, a diretora diz: “Para o transporte clandestino não existe uma fiscalização normal, onde você, pelo gesto, ou por apito para o veículo. Se percebem a fiscalização, os motoristas jogam o carro em cima dos nossos agentes”, explicou. Não foi esclarecido se o Gol utilizado na perseguição é carro oficial ou cedido pela Guarupas, de acordo com o Termo de Cooperação.

Cristina Maria esclarece que os agentes fiscalizadores ainda não estão devidamente identificados por falta de uniforme. “Em breve, eles já estarão uniformizados”.

Ela conclui fazendo um apelo à população: “Peço aos passageiros que não andem de lotação clandestina”.