Por Alysson Coimbra*
Os recentes e trágicos acidentes de trânsito ocorridos em Minas Gerais lançam luz sobre um problema há muito tempo negligenciado em nosso país: a saúde e as condições de trabalho dos motoristas profissionais. Esses sinistros refletem uma realidade alarmante que afeta toda a sociedade.
Na madrugada de terça-feira (12/03), um motorista de caminhão sofreu um mal súbito e, infelizmente, veio a falecer após invadir o canteiro central da BR-381. Em um outro acidente, um motorista de aplicativo perdeu a vida após um infarto fulminante ao volante. E, em um caso ainda mais dramático, a explosão de um caminhão-tanque após um sinistro não apenas ceifou a vida do motorista, mas também causou destruição em sua volta. Esses eventos não são isolados, mas sim sintomas de um problema sistêmico.
A ampliação do prazo para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para dez anos, uma medida adotada pelo governo anterior, ilustra um descaso com a saúde dos motoristas profissionais e, por tabela, com a segurança viária. Essa categoria, que deveria ter atenção especial devido aos riscos inerentes à sua profissão, foi deixada à margem.
A falta de exames periódicos por especialistas em Medicina e Psicologia do Tráfego reduz significativamente as chances de diagnóstico precoce de condições que podem ser fatais não apenas para os motoristas, mas para todos que compartilham as vias.
Os riscos associados à profissão de motorista são muitos, desde a dimensão e peso dos veículos que manejam até as jornadas exaustivas e a privação de sono. Isso sem falar na maior vulnerabilidade a dependências, que podem ser exacerbadas pela natureza solitária e estressante do trabalho. Esses fatores justificam uma revisão urgente das políticas públicas voltadas para essa categoria, com ênfase na saúde física, mental e psicológica.
Desde a implementação da lei que exige exames toxicológicos para motoristas das categorias CDE, houve uma redução significativa nos acidentes em rodovias federais, salvando muitas vidas e diminuindo os incidentes em mais de um terço. No Brasil, existem quase 12 milhões de motoristas habilitados nessas categorias e estima-se que um terço esteja irregular com o exame. A fiscalização revelou uma prevalência quase três vezes maior de uso de drogas entre motoristas das categorias C e E em comparação com os flagrados dirigindo sob efeito de álcool, destacando a necessidade de alterar a periodicidade da realização do exame e transformá-lo em randômico, para evitar que os motoristas consigam burlar a fiscalização.
Argumentos econômicos, usados para revisar normas de trânsito no passado, não podem prevalecer sobre a segurança e a saúde. A vida humana não tem preço, e os custos sociais, psicológicos e financeiros dos acidentes de trânsito são imensuráveis. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam para perdas anuais de R$ 50 bilhões devido a essas tragédias evitáveis.
É imperativo que repensemos nossas prioridades e políticas, colocando a saúde e a segurança dos motoristas profissionais no centro das discussões. Afinal, cuidar daqueles que diariamente transitam por nossas estradas é cuidar da sociedade como um todo. Não podemos mais fechar os olhos para essa realidade. É hora de agir.
(*) Alysson Coimbra é médico especialista em Medicina do Tráfego e diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Podem publicar meus comentários. Acho importante estas pesquisas
Parabéns pelo texto.
Acredito que quem determina tempo para CNH é de competência de médicos e psicólogos….. e não de classe política.
Minha preocupação não é só com motoristas profissionais …mas também os amadores….A e B……doença não tem idade
.Hoje em dia os jovens estão muito ansiosos e impacientes.. infatam é tb sofrem AVC….10 anos é muito tempo…