“Tenho medo. Todos os dias eu rezo antes de entrar no ônibus e entrego a viagem a Deus. No ônibus, as pessoas sempre comentam sobre os assaltos”, disse a vendedora Anna Candice, que viaja com freqüência para o Estado de Pernambuco. Ela é uma das pessoas que enfrentam o medo de assaltos em viagens municipais e interestaduais. Em média, a cada dez dias um ônibus de transporte intermunicipal é assaltado na Paraíba, segundo o Sindicato de Empresas de Transportes de Passageiros no Estado da Paraíba.
De acordo com Orlando Lima de Araújo, chefe do Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da Paraíba, os principais pontos de assalto em estradas federais no Estado estão concentrados nas BR-101, nas imediações de Mata Redonda, BR-230, no trecho da Serra de Santa Luzia e na cidade de Goiana, em Pernambuco. A BR-104, que liga Campina Grande a Caruaru (PE) é outra rodovia que apresenta grande concentração de assaltos, devido à presença de sacoleiros que realizam compras em Toritama (PE).
“Os assaltos geralmente acontecem em trechos, onde o motorista tem que reduzir a velocidade e nas divisas da Paraíba com os outros Estados, onde a fiscalização policial é menor”, disse o inspetor Araújo. Os roubos, segundo a polícia, geralmente são praticados por grupos organizados que realizam os assaltos de forma sistematizada, principalmente no horário da noite. O foco é o roubo de bagagens e bens de passageiros que além da perda financeira, passam por momentos de forte pressão psicológica.
“Depois da primeira vez, eu sempre penso que vou ser novamente assaltado. Rezo e peço a Deus para que isso não aconteça”, disse Joselito de Araújo Brito, motorista de ônibus há 18 anos. Em dezembro do ano passado, ele foi assaltado por quatro homens
fortemente armados que estavam em um veículo Eco Sport, quando trafegava em um ônibus na BR-101, no trecho de Mata Redonda.
Joselito disse que ficou sob a mira de um revólver e teve que conduzir o veículo para um matagal perto da rodovia, em que os
assaltantes roubaram todos os passageiros. “Eles atiraram para cima e disseram para ninguém reagir. Eu pensava em minha família, enquanto eles mandavam a gente colocar as mãos na cabeça e deitar no chão. Pedia a Deus para tornar a vê-los”, descreveu.
A grande incidência de assaltos fizeram com que empresas de ônibus mudassem as rotinas de trabalho. Um dos exemplos é a Bonfim que registrou em 2005, uma média de um assalto por semana aos ônibus da frota que circulavam com destino a Recife. A empresa, segundo o chefe de tráfego Edmilson Silva, evitou atender a pedidos de parada no meio da estrada e excluiu, da rota de embarque de passageiros, pontos da Grande Recife.