A inclusão de Mato Grosso do Sul no bloco dos estados que utilizam o financiamento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) depende de projetos que serão desenvolvidos pelos quatro estados, que começam a apresentar propostas de ações integradas já a partir do ano que vem. Esses projetos envolvem desde qualificação de mão-de-obra até reestruturação de rodovias, com apoio de empresas do setor privado, utilizando as linhas de financiamento do banco.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso do Sul (Aprossul), Carmélio Romano Roos, a abertura de novas linhas de crédito é bem-vinda. Mesmo com o perfil de financiamentos vultosos, Carmélio frisa que no Estado existem empresários com perfil para este volume de crédito, principalmente para investimentos no setor industrial.

Segundo análise do economista Normann Kalmus, a inclusão do Estado em um banco de desenvolvimento é oportuna para os empresários que já estão instalados ou pretendem se instalar. “A questão que a mim parece mais importante, a partir de agora, é como tirar o maior proveito possível dessa oportunidade”.

Normann destaca que o BRDE é um banco de desenvolvimento e opera com premissas diferentes de um banco comercial. “Obrigatoriamente são consideradas questões como o grau de adesão do projeto proposto, ao programa de cada Estado ou região. Trata-se, portanto, de um ente financiador de um objetivo de longo prazo que se pretenda atingir e por isso as taxas de juros são menores do que as praticadas pelas instituições privadas”.

O economista destaca que até hoje, todas as tentativas de aplicar um plano de desenvolvimento no setor público estadual foram baldadas, ou seja, as questões são tratadas ao sabor dos interesses e/ou oportunidades do momento, sem uma visão de longo prazo, o que não se coaduna com o modus operandi de um banco de desenvolvimento.

“A iniciativa privada nacional não costuma ser mais eficiente quando o tema é planejamento. Em diversas ocasiões os recursos disponibilizados para linhas de crédito deixam de ser aplicados por falta de projetos adequados, evidentemente não por falta de oportunidades”.

Dessa forma, de acordo com Normann, “a adesão de Mato Grosso do Sul ao BRDE parece-me bastante importante em termos de geração de oportunidade, entretanto, se essa oportunidade vai se constituir em algo concreto, caberá ao Estado, que precisa estabelecer e divulgar um projeto de desenvolvimento, e ao empresário, que necessita profissionalizar-se e apresentar propostas consistentes e coerentes com o projeto de desenvolvimento adotado. Como o banco é regional, aqueles projetos que tenham uma lógica de integração dos membros da instituição serão evidentemente beneficiados”.

Entre os vários projetos que poderão ser desenvolvidos, o economista cita o setor de infra-estrutura de transporte, que beneficiaria a circulação de bens entre os sócios do BRDE e que possibilitaria a redução de custos dos produtos, melhorando sua competitividade. “Outras atividades como, por exemplo, a ovinocultura e correlatos, já desenvolvidas nos estados do sul, mas ainda pouco importantes em termos relativos ao nosso Estado, poderiam, em tese, se beneficiar também dessa adesão em função de seu apelo regional, que ajudaria a consolidar a atividade, norteando um APL (arranjo produtivo local). Esperemos que o Estado apresente seu projeto e que o setor privado se capacite para usufruir das oportunidades, transformando perspectivas em realidade”, finaliza Normann.