O transtorno causado pela cratera aberta no km 6 do Anel Rodoviário, na altura do Bairro das Indústrias, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, e que há mais de 30 dias inferniza a vida de motoristas, pode se repetir em outros quatro pontos da rodovia. De acordo com o engenheiro do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Alexandre Oliveira, os bueiros metálicos instalados na via, na década de 1980, quando de sua duplicação, tiveram a vida útil reduzida por causa do uso inadequado por esgoto clandestino, que corrói o material mais depressa. Por dia, trafegam pelo Anel cerca de 100 mil veículos, grande parte caminhões de carga. Os bueiros metálicos apodrecem, não suportam o peso do tráfego e desabam, impedindo a vazão da água da chuva.

Outra má notícia é que a cratera, causada justamente pelo entupimento de um bueiro metálico, só deve ser fechada no fim da próxima semana. O Dnit decidiu refazer a parte comprometida usando o mesmo material, mas revestido por uma camada de concreto. “A Copasa está isolando o esgoto e fazendo um canal específico sob o Anel para os resíduos domésticos Anel. Serviço semelhante será feito em outros quatro pontos da via onde há bueiros metálicos que recebem esgoto”, disse Alexandre. Mesmo não sendo definitiva, a obra para cobrir a cratera vai custar R$ 4,6 milhões aos cofres da União.

Nos últimos 30 dias, a Construtora Visor, que presta serviços para o Dnit, vinha tentando fechar o buraco, mas ele sempre reaparecia por causa do entupimento do bueiro. “Infelizmente, devido ao grande volume de chuva nos últimos dias, a situação piorou. Em vez de intervir no foco do problema, estamos tentando recuperar imediatamente a pista para restabelecer o tráfego”, disse o engenheiro, admitindo que houve atraso no cronograma inicial da obra. “Temos um bueiro totalmente obstruído e, quando chove, há inundação. Então, nossa prioridade é desobstruir o bueiro e, para isso, tivemos que intervir na pista principal do Anel”, acrescentou.

Em duas intervenções anteriores na cratera, segundo Alexandre, foram colocadas pedras sobre o bueiro para uma solução momentânea. “Qualquer outra medida levaria muito tempo para ser feita. Colocamos as pedras para manter a drenagem funcionando. O bueiro já estava podre e ruiu com o peso do aterro que foi recolocado. O volume de água da chuva também foi muito grande”, disse.

Comerciantes cobram prejuízo

Moradores e comerciantes da Rua Irmã Maria Paula, perpendicular ao Anel e que foi inundada 10 vezes em dezembro, por causa das obras na rodovia, querem saber quem vai pagar os prejuízos que tiveram. Dona de um restaurante, Maria Francisca dos Santos, de 40 anos, estima perda de R$ 5 mil, pois deixou de ganhar R$ 500 em cada dia que o estabelecimento ficou tomado pela água represada, que chegou a dois metros de altura na rua. “Consegui reabrir a casa graças aos amigos, que doaram mantimentos.”

Por causa da cratera no Anel, motoristas que trafegavam no sentido Rio enfrentaram na segunda-feira até sete quilômetros de engarrafamento. “Está complicado. Gasto 20 minutos para sair deste lugar”, disse o vendedor Anderson Cássio, de 40. “Isso é um verdadeiro teste de paciência. Como sempre é a população quem sofre com o descaso do poder público”, reclamou o taxista Hebert de Sousa Reis, de 32. Quem também precisou de paciência foi a família do funcionário público Hélio dos Santos Aguiar, de 45, que seguia para o litoral fluminense. “Saí de João Monlevade às 7h, pensando em não enfrentar congestionamento, mas logo na chegada do Anel o trânsito estava lento.”