Nas estradas que cortam Curitiba, os flagrantes de manobras arriscadas envolvendo as caminhões

Duas tragédias num intervalo de dois dias expuseram um perigo crescente nas principais rodovias paranaenses. Acidentes envolvendo caminhões, como os que mataram 10 pessoas em Fazenda Rio Grande e Ponta Grossa na semana passada, têm aumentado de forma preocupante no Estado.

De acordo com levantamento feito pelo setor de estatísticas da Polícia Rodoviária Federal a pedido do JE, o número de acidentes com estes pesados cresceu 27% no primeiro semestre de 2007. Entre janeiro e junho do ano passado houve 745 colisões nas rodovias federais do Estado, que deixaram 54 mortos e 428 feridos. No mesmo período deste ano, a PRF registrou 943 acidentes, com 526 feridos e 65 mortos. Nestes dois últimos itens, o crescimento foi respectivamente de 23% e 20%.

Os dados não incluem as batidas ocorridas na tarde de 22 de julho, na BR-116, e na noite de 24 de julho, na BR-373. Em cada uma, cinco pessoas morreram – todas eram ocupantes de veículos que chocaram-se com caminhões.

Para quem depende das estradas, os protestos são pelas condições inadequadas. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar), Fernando Klein Nunes, reclama que a carga tributária sobre o setor e a população em geral é incongruente com os investimentos nas rodovias. “O Cide (imposto dos combustíveis) arrecada R$ 8 bi anuais para investimento em rodovias, mas o valor não é aplicado e então surge a opção pela privatização. É absurdo ver troncos fundamentais da economia nacional sem duplicação, como a BR-116 entre Curitiba e Fazenda Rio Grande e na Serra do Cafezal (SP),”, protesta.

À precariedade das vias soma-se outro antigo problema: o envelhecimento da frota nacional. Segundo a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), cerca de 1 milhão de caminhões, ou 60% dos que circulam no País, estão nas mãos de autônomos. Nesta faixa, a idade média dos veículos é 20 anos. “O autônomo faz reparos à medida que o orçamento permite, e se que comprar um mais novo precisa dirigir 14 ou 15 horas diárias para honrar as prestações”, afirma o presidente da Federação Nacional dos Caminhoneiros e do Sindicato dos Caminhoneiros do Paraná, Diumar Bueno, que reivindica junto ao governo federal a concessão de linhas de crédito facilitadas para compra de caminhões novos ou seminovos.

Outro drama, segundo Diumar, é a sobrecarga de trabalho. Quando o horário não é apertado, as transportadoras premiam os motoristas com bônus para chegada do frete em determinado prazo. Os autônomos, por sua vez, estendem o período na boléia para engordar a renda.

Um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional pretende disciplinar esta relação, limitando a jornada diária em 12 horas. A cada quatro horas de direção, o caminhoneiro deverá parar por 30 minutos. O tacógrafo, equipamento obrigatório dos veículos, registra estas informações. “A lei não é a perfeita, mas é preciso alguma regulamentação para coibir os abusos”, avalia o sindicalista.