Câmeras que deveriam inibir a ação dos bandidos dentro dos ônibus que circulam pela Região Metropolitana do Recife são praticamente ignoradas por eles. A opinião é de quem utiliza o transporte coletivo todos os dias.
Motoristas, cobradores e passageiros dizem que sem a presença de policiais militares, dentro dos veículos, bandido nenhum deixará de assaltar. Os que partem do terminal da Macaxeira estão entre os mais visados pelos assaltantes.
No início da noite, as viagens já começam com os ônibus lotados. Entre tanta gente, é difícil perceber se um assaltante também embarcou e está no meio dos passageiros.
O ônibus que vai com destino ao bairro do Barro é um dos que seguem pela BR-101: pelo menos meia hora de percurso num trecho escuro, onde os bandidos costumam agir. Foi o que aconteceu às 19h do dia 22 de setembro.
Quatro homens entraram armados no ônibus. Um passageiro, que também tinha um revólver, reagiu com tiros. O assalto terminou com a morte de um outro passageiro: Cláudio José da Silva, 38 anos. O assaltante Aladim Ferreira Júnior, 20 anos, também morreu baleado.
Todos os dias são muitas vidas em risco por causa do roubo de relógios, bolsas e telefones celulares. Trabalhadores das empresas de ônibus dizem que as câmeras tiveram um efeito positivo quando começaram a ser instaladas. A novidade tecnológica intimidou os bandidos e o número de assaltos teria diminuído por algum tempo.
Mas, de acordo com os trabalhadores, atualmente os assaltantes pouco se importam se estão sendo filmados ou não. “Eles vêm definitivamente para assaltar e assaltam mesmo e não estão nem aí para câmeras”, diz o mecânico Raimundo Mendonça. “Para eles, não existem câmeras”, confirma Izonildo José Sobrinho, que trabalha como cobrador.
Quem sai da BR-101 e entra na Estrada da Muribeca, até Jaboatão Velho, enfrenta uma outra área de perigo: são 13 quilômetros de escuridão, por onde circulam os ônibus do transporte complementar do município. Ficar à espera da condução também pode ser muito arriscado.
“Você tem que andar olhando pros lados, não pode andar desprevenido e nem olhar pra baixo. Tem que estar sempre atento”, recomenda o eletricista Francisco Barbosa.
O medo da violência ficou ainda maior no mês passado, quando um homem deu um tiro na cabeça do motorista que morreu na hora. O microônibus desgovernado desceu o barranco e 13 pessoas ficaram feridas.
“Para quem faz esse percurso da Muribeca, vive num perigo constante, à mercê dos bandidos. Um transporte mas seguro seria imprescindível”, declara Albertina de Almeida, auxiliar de compras.
Os passageiros dizem que os bandidos têm agido com tanta liberdade que, por várias vezes, terminam um assalto, descem do ônibus e ficam numa parada à espera de outro ônibus para fazer um novo assalto.
“Por aqui não tem viatura. Em áreas nobres do Recife, ainda tem, mas por aqui”, reclama o motorista Rafael Pereira de Brito, que dirige diariamente pela área.
De acordo com a assessoria da Polícia Militar, dentro dos ônibus, as câmeras servem de apoio no combate à violência, mas, nas ruas de todos os bairros que margeiam as BRs, existe policiamento com rondas diárias.
Já a responsabilidade sobre a segurança, nas estradas federais, é da Polícia Rodoviária, que mantém postos de fiscalização ao longo das rodovias.