Quase 50% dos motoristas de caminhão usado para transporte de carga têm distúrbios do sono ou estão no limite do cansaço físico e mental; 41% afirmam dirigir mais de oito horas por dia e 10% admitem permanecer no volante cerca de 16 horas diariamente, algumas vezes até mesmo de forma ininterrupta. Esses foram alguns dos indicativos comprovados, ontem, na operação Comando de Saúde nas Rodovias (CSR), realizado pela Polícia Rodoviária Federal no Posto Lago Verde na BR 222, na altura do quilômetro 12, em Caucaia.
O CSR mostrou, ainda, que mais de 80% dos caminhoneiros estão com o Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, ou seja, sobrepeso ou obesidade. Além disso, 58% declaram ingerir bebida alcoólica. Também preocupa a incidência de elevada pressão arterial, glicose, triglicerídeos e de colesterol.
A operação da PRF foi feito em parceria com o Sest/Senat, de oito da manhã ao meio dia, e traçou um perfil da dramática situação de saúde e de trabalho de caminhoneiros que trafegam nas rodovias do Estado e no restante do País.
Ontem, no Comando de Saúde nas Rodovias, inicialmente os caminhoneiros foram entrevistados. Em seguida, a equipe composta por um médico, enfermeiras e auxiliares aplicou exames básicos como o de medição da taxa de glicose e verificação de pressão arterial. Os resultados, explica o inspetor Darlan Antares, mais uma vez indicam o quadro de precarização na atividade desses motoristas. “No ano passado, encontramos um caminhoneiro em situação extrema, ele era cego de um olho e tinha apenas 25% da visão do outro olho, um risco para ele e para os outros no trânsito”, lembra.
Informa que, nos CSRs, o médico costuma encaminhar à emergência hospitalar motoristas com quadro extremos de diabetes e hipertensão. O inspetor explica que os problemas comuns de saúde devem-se, sobretudo, à carga horária de trabalho excessiva. “Muitos deles não têm tempo para descanso, nem para movimentar as pernas e melhorar a circulação sangüínea”, ressaltou.
Fiscalização insuficiente
Já os caminhoneiros estacionados no Posto São Cristovão, no quilômetro 15 da BR-116, ouvidos na semana passada pela reportagem do Diário do Nordeste admitiram que, comumente, são obrigados a trabalhar 14, 18 ou até mais horas por dia. Segundo eles, a fiscalização feitas pelos órgãos de trânsito no tacógrafo, aparelho acoplado à ignição, observa apenas a velocidade do transporte e os documentos do motorista e do veículo, deixando em descoberto as paradas obrigatórias de 30 minutos a cada quatro horas trabalhadas.
“Tem colega que sai com carga perecível e roda até mais de 24 horas sem dormir”, disse Luiz Bergamashi. “Se você não fizer assim, tem quem faça. Só a fiscalização do tacógrafo impediria isso”, lembrou.
FIQUE POR DENTRO
Equipamento indica quando o caminhão pára
O uso tacógrafo é obrigatório em todos os veículos de transporte de carga com capacidade máxima de tração superior a 19 toneladas e peso bruto total superior a 4536 quilos fabricados entre 1991 e 1999 em diante, prevê a resolução do Conselho Nacional de Trânsito de 1999.
O tacógrafo monitora a velocidade e o tempo em que o veículo se encontra em deslocamento. Com isso, caso houvesse uma fiscalização efetiva, os órgãos de trânsito poderiam facilmente identificar a carga excessiva de trabalho dos motoristas e a falta de cumprimento de período de descanso de 30 minutos a cada quatro horas no volante.
Quem for flagrado sem tacógrafo será multado e terá o veículo apreendido até a instalação do equipamento. O uso do tacógrafo evita multas de R$ 127,69, e a perda de cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Existem dois tipos de tacógrafos: o mecânico e o eletrônico.