Além do queijo, conhecido mundialmente, São Roque de Minas tem o Parque Nacional da Serra da Canastra, reduto de belas paisagens
Um passeio pela região exuberante de São Roque de Minas, no sudoeste mineiro, é capaz de transformar pessoas, até mesmo as mais sisudas. O que tem nas Minas Gerais que encantam a todas as pessoas que as visitam? Quebrante? Não, vêlá, sô! É só o jeitim mineiro mesmo. Afinal, Minas Gerais é terra prá lá de boa e hospitaleira.
O estado mineiro possui 853 municípios e muita gente falando com seu jeito próprio, cada qual com seu regionalismo. São Roque de Minas é um deles, um verdadeiro reduto de cenário exuberante que agrada a cada olhar.
As paisagens são de deixar qualquer um de queixo caído. Afinal de contas, a natureza foi generosa com a cidade, que ostenta com orgulho – dos bons – o Parque Nacional da Serra da Canastra. Daí, o título que a cidade ganhou: “capital” da Canastra.
Com uma paisagem que reúne cenários típicos de cerrado com campos rupestres e vegetação de Mata Atlântica, o município tem clima rural e diversos atrativos para conhecer.
O Parque
O Parque Nacional da Serra da Canastra situa-se no sudoeste de Minas Gerais, ao norte do Rio Grande – lago de Furnas e lago Mascarenhas de Morais. É composto por várias fitofisionomias do bioma Cerrado com predomínio de vários tipos de campos, e possui 200 mil hectares. Nele, preservam-se as nascentes do rio São Francisco e vários outros monumentos.
A beleza do cenário, com grandes paredões de rocha, é um dos atrativos que agradam aos olhos dos milhares de turistas do Brasil e do mundo, que visitam o local todos os anos, além, é claro, das belas cachoeiras.
A Serra da Canastra é também o destino preferido de praticantes de esportes de aventura, como: rapel, boia-cross, canionismo, cicloturismo, moto cross, passeio de balão, quadriciclo e muito mais. Além do turismo contemplativo, entre outros, como o de observação de aves silvestres.
“Velho Chico”
O Parque Nacional da Canastra abriga, ainda, a nascente de um dos mais importantes cursos d’água do Brasil: o Rio São Francisco. O velho Chico, como é conhecido popularmente, passa por cinco estados brasileiros e tem como berço a cidade de São Roque de Minas.
A histórica nascente está localizada na parte alta do parque, na mesma rota que tem como atrativos a Casca d”Anta, uma das mais famosas, e o Curral das Pedras.
Belezas nas partes alta e baixa
Os pontos mais procurados são a nascente histórica do rio São Francisco, a parte alta da Casca D’anta, cachoeira do Rio São Francisco com 186 metros de altura, que está entre as maiores quedas livres do Brasil, um cenário incrível.
Para admirá-la, há duas maneiras: a primeira, pela parte baixa do parque, por meio de uma trilha de aproximadamente mil metros até seu poço. De lá, é possível observar e sentir, bem de perto, toda a abundância da queda formada pelas águas do rio São Francisco; e, na parte alta, antes da queda, que tem também um mirante, onde é possível contemplar – com os devidos cuidado – uma paisagem maravilhosa.
Há também na parte alta, a Cachoeira dos Rolinhos; o Curral de Pedras – feito manualmente pedra sobre pedra -, que era utilizado para conter o gado durante a pernoite dos tropeiros; a Garagem de Pedras, um antigo entreposto para os habitantes do Vão dos Cândidos, que subiam a chapada a pé ou em “lombo de burro”, no qual tinha acesso à estrada que ligava e ainda liga São Roque de Minas ao Triângulo Mineiro.
Entre cachoeiras e queijos
As cachoeiras, assim como os queijos, são símbolo dessa região. No Parque Nacional existem cerca de 30 quedas catalogadas, de diferentes formatos e tamanhos; algumas com acesso liberado, outras disponíveis somente para contemplação.
Ainda têm, do ladinho de São Roque de Minas, as cachoeiras da Chinela, com queda de 30 metros; do Cerradão, com 200 metros de altura e três quedas formando um poço fundo; Rolinhos; Capão Forro e Poço das Orquídeas.
Queijo Canastra, que trem bão!
São Roque de Minas tem se tornado conhecida, a cada dia que passa. Isso porque a região é famosa por ter o maior número de produtores do famoso queijo da Canastra. Êta, trem bão, sô!
O produto, que já se tornou Patrimônio Cultural Imaterial pelo IPHAN, faz parte da cultura, da história e da tradição local, além de oferecer um roteiro delicioso, literalmente!
A maioria das fazendas produtoras está abrindo suas porteiras para receber turistas e mostrar como se faz o melhor queijo de leite cru do mundo. Uma iguaria que já foi motivo de muitas discórdias.
Precursor de ideias
Por meio da APROCAN – Associação dos Produtores de Queijo Canastra, as queijarias da cidade se organizaram em uma rota especial para contar a história do mais legítimo produto da gastronomia mineira.
A conquista se deu graças ao empenho do precursor João Leite, proprietário da Fazenda e Queijaria Roça da Cidade. Como presidente do Conselho da Aprocan, ele e outros produtores lutaram incansavelmente pela cidade e região e conseguiram chegar aonde estão, com o Selo de Caseína nas mãos e a futura 1ª escola de formação de mestres de queijo de leite cru do País, em construção, com data prevista de inauguração para o mês que vem.
Banqueiro ao estilo mineiro
A história, não muito distante, dá conta de que quando o Estado de Minas Gerais ficou na pior, João Leite teve a ideia de criar um banco, uma espécie de cooperativa, para ajudar os produtores locais. E não deu outra: a ideia se materializou e, hoje, a realidade é outra: o banco ajuda os cooperados com diversos benefícios, entre eles, a educação.
A cooperativa paga a metade de mensalidade escolar para os filhos dos associados, que estudam numa escola mantida pela próprio banco. E não é só: há uma linha de crédito à disposição para os produtores investirem e se adequarem às normas vigentes de higiene.
Manejo bom
Um outro exemplo é de Carlos Henrique e Solange, da Fazenda Capão Grande, que também trabalham duro na produção de queijos da Canastra. A história se assemelha à de João Leite, já que o filho do casal, Gustavo Henrique, preferiu deixar o sonho de ser veterinário para se dedicar aos negócios da família.
Com a ajuda da namorada Sara Lídia, o jovem trabalha com dedicação todos os dias sem reclamar. “Eu sou muito mais útil aqui, na fazenda”, diz ele, com jeitão tímido.
Solange lembra de uma história: “O pessoal brinca que a gente já começou fazendo queijo bom. “Mas, o nosso queijo, a gente tá no terroir totalmente da Canastra, nosso terreno divide com o Parque. A história do queijo, o manejo do queijo é todo dele [Carlos Henrique], que já veio de geração e tudo. O queijo daqui sempre foi bom, só que não tinha valor”.
As queijarias e as tentações
E por falar em queijarias, a pioneira é comandada por João Leite: a Roça da Cidade. Lá, une-se tradição e modernidade num local privilegiado na Serra da Canastra, ao lado do Parque Nacional, que possui via de fácil acesso, com uma bela vista panorâmica da serra.
Num rápido passeio pela queijaria, João Leite dá uma aula sobre os processos de produção dos queijos da canastra. E ao final, os visitantes são convidados a degustar os produtos feitos na fazenda, como queijos, café, rosquinhas, tortas e bolos. Todos os quitutes são muito deliciosos.
Fazenda Capão Grande
Localizado aos pés da Canastra em meio a uma mata preservada, a queijaria que o casal Solange e Carlos Henrique comanda é também uma das principais responsáveis pela produção de queijos local. O local recebe com frequência visitantes que podem se deliciar com um típico café da tarde mineiro farto, com bolos, biscoitos, café, leite, suco, pão de queijo, e claro, o famoso queijo da Canastra.
Estância Capim Canastra – Queijo do Guilherme
Diferente de outros produtores, o ex-veterinário Guilherme Ferreira, nascido em Limeira, no interior de São Paulo, largou a profissão e foi pra roça, uma vez que o pai fez o caminho oposto. Na fazenda e queijaria Capim Canastra, ele aprendeu a produzir queijo e seguiu o curso mas, como ele mesmo diz: “um pouco diferente dos demais”.
Ferreira diz que vem de uma geração diferente dos produtores de São Roque de Minas, pois o pai não era produtor de leite nem tampouco de queijos. “Eu quis fazer o queijo, aprendi e resolvi fazer diferente de todos. Enquanto a maioria tira leite um vez por dia, eu tido pela manhã e tarde. Falo queijos diferenciados e os forneço somente para restaurantes de alta gastronomia”, detalha.
A receita diferenciada de Guilherme Ferreira tem dado certo, afinal, o queijo da Capim Canastra foi premiado no Mondial du Fromage de Tours, em 2015, na França. Com esse aprendizado, Ferreira tem aprimorado sua técnica e ampliado as estruturas da fazenda.
A queijaria conta com cave para afinação de queijos, ambiente para recepção de convidados e vivência, além de eventos especiais como o já conhecido Festival de Balão da Canastra. A Capim Canastra produz quatro tipos de queijos diferentes, com maturações e apresentações distintas.
Selo de caseína, uma vitória à parte
“Foi uma luta de quase setenta anos para conseguirmos regularizar a produção do queijo com leite cru. Recentemente, tivemos outra vitória. Conquistamos o selo de caseína. Agora, será possível rastrear todos os queijos; o dia e a hora que foi feito, a vaca e de qual fazenda ela é”, conta, entusiasmado.
João Leite é da quarta geração da família, mas, se sente aliviado ao ver o início da quinta. Seu filho preferiu deixar de lado a arquitetura em Turim, na Itália, para trabalhar com o pai na fazenda e na produção dos queijos.
Gastronomia
A gastronomia mineira é um capítulo à parte em todo o Estado. E na Canastra não poderia ser diferente. Com o melhor da comida de fazenda, cheia de história e preparada com todas aquelas tradições de família, São Roque de Minas é um verdadeiro paraíso para experimentar os sabores locais.
Do café da manhã, com muito pão de queijo, biscoito de polvilho e bolos caseiros, passando por delícias exóticas como um ceviche de jiló no almoço e peixe e carne ao molho do típico queijo canastra, o que não faltam são fartas opções para se deliciar.
Estando na cidade vale a pena provar também o famoso pão de queijo com carne de lata, servido, inclusive, na praça da igreja. No almoço , há o restaurante Cozinha Original, comandado pela chef gourmet Joanne Ribas, que fica em São José do Barreiro, Distrito de São Roque de Minas. Pratos como torresmo, ceviche de jiló, pernil com molho de goiaba, frango com quiabo, além do tradicional arroz e feijão são deleites ao paladar.
Outra boa opção para o jantar e petiscar é o restaurante Velho Chico, sob o comando de Ricardo Barbosa, que fica na Praça Miguel Tenente, no bairro Colina. As dicas ficam para os pratos à base do queijo Canastra, que são o surubim ao molho de queijo e filé mignon ao molho de queijo Canastra. Duas pedidas saborosíssimas. O drinque de frutas vermelhas é bem refrescante e para a sobremesa tem a irresistível crepe de nutella com frutas vermelhas e sorvete de creme. Deliciosa por dimais!
Onde ficar
O Hotel Chapadão da Canastra é a opção ideal para curtir um roteiro completo na região, que mescla o rural e o urbano. Sua estrutura de hotel se parece bem com o aconchego de uma pousada. O atendimento é bem ao estilo mineiro, cordialidade e simplicidade ‘bão qui só venu’.
O café da manhã é o que mais agrada ao hóspede. Eu fiquei apaixonado pelo pão de queijo, pelas rosquinhas de nata, pelas broas de fubá, além dos bolos e pães caseiros. Todos deliciosos.
Localizado à margem do Rio do Peixe, é possível encontrar ainda, pequenos animais silvestres e diversas espécies de pássaros. São 24 apartamentos com uma área de 25 metros quadrados, frigobar, TV LED 32’, telefone, ventilador e ar condicionado, além de varandas com vistas da exuberante serra e do bosque que margeia a propriedade.
Quanto ao lazer, o hotel tem piscinas adulto e infantil, hidromassagem aquecida e barzinho, além de salão de jogos, loja de artesanatos, lavanderia, videoteca, lan house. Para conhecer melhor a região, o Chapadão da Canastra disponibiliza veículos 4X4 para passeios nos melhores e mais procurados roteiros da Serra da Canastra. Informações: ww.chapadaodacanastra.com.br
Como chegar:
Para quem está em São Paulo, a distância de 540 km aproximados é feita pelas rodovias Bandeirantes (SP-348), até o km 47; depois a Via Anhanguera (SP-330), até o km 86, adentrar ao Anel Viário de Campinas (SP-083), sentido Mogi Mirim pela rodovia Dom Pedro I (SP-065); na Dom Pedro, adentrar no km 133, sentido Mogi Mirim, por meio da Rodovia Adhemar de Barros SP-350, e em seguida rumo a Passos (MG) por meio da rodovia Professor Boanerges Nogueira de Lima (SP-340). Já em Minas Gerais,a rota será completada por meio da MG-050, passando por Passos, Capitólio, Piumhi e depois São Roque de Minas.
A empresa de ônibus Viação Expresso União (www.expressouniao.com.br) tem dois horários que saem diariamente, do Terminal do Tietê, em São Paulo, às 8 horas e às 22 horas, com destino a Piumhi; e dois horários no sentido oposto, às 8 horas e às 21h45. O tempo de viagem é de aproximadamente oito horas.
Pedágios
Se a viagem for de carro, saiba que há sete pedágios entre as duas cidades. São eles:
SP-348 – Rodovia dos Bandeirantes, km 39 – R$9,20
SP-330 – Via Anhanguera, km 82 – R$9,10
SP-340 – Gov. Adhemar de Barros, km 123 – R$12,00
SP-340 – Dep. Mario Beni, km 193 – R$7,10
SP-340 – Boanerges Noqueira de Lima, km 221 – R$ 6,40
SP-350 – Vicente Nasser, km 255 – R$9,00
MG-050 – Newton Penido, km 270 – R$5,90
- O jornalista Aderlei de Souza viajou a convite da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (APROCAN) e do Hotel Chapadão da Canastra