“Filho, fica com Deus. Mamãe te ama”. Essa foi a última frase dita em 2003 pela então secretária Madalena Pelissari Bittencourt ao filho Fernando, antes do caçula sair de casa com destino a uma festa, na noite de 8 de novembro. Na manhã do dia seguinte, porém, o carro que o estudante dirigia bateu em um poste na quadra 51 da avenida Nações Unidas, próximo ao Núcleo Geisel. Como havia uma saliência no asfalto, o veículo se desgovernou em razão da alta velocidade. Os quatro ocupantes se feriram, mas Fernando não resistiu aos ferimentos e morreu. Na época, ele tinha 20 anos de idade.

Amanhã, quando serão completados exatos cinco anos de sua morte, haverá uma carreata para conscientizar a população – e principalmente os jovens – sobre os perigos ocasionados pela associação de bebidas alcoólicas, drogas e excesso de velocidade no trânsito. A partir das 10h30, os participantes sairão de frente do Teatro Municipal e seguirão até a altura do viaduto da rodovia Marechal Rondon, retornando em seguida ao porto de partida.

“Se em todos esses anos um jovem se conscientizar, já me sinto feliz, pois é uma família a menos que deixará de sofrer o que estamos sofrendo hoje”, diz Madalena. A afirmação faz sentido. Ela mesma é testemunha da imprudência de motoristas no Nova Esperança 2, bairro onde mora. “É impossível assistir televisão depois das 22h devido às motos”, atesta. Ela observa que, mesmo após tantos anos do acidente que vitimou seu filho, não há conscientização por parte das pessoas sobre o assunto. “Por mais que pedimos a participação da população, é muito difícil. As pessoas não colaboram neste sentido”, diz. “As pessoas precisam se unir mais por essa causa”, alerta.

As feridas ocasionadas pela perda de Fernando ainda não cicatrizaram. Tanto que, até hoje, Madalena ainda não sabe a causa exata da morte do filho. Diz apenas que foi devido a alta velocidade. “Tenho muitas perguntas para fazer, porém, o medo das respostas é maior. Cada acidente que vejo no jornal e na TV parece que é algo que está acontecendo de novo comigo. É angustiante.”

As lembranças daquela última noite, quando Madalena viu o filho com vida pela última vez, permanecem vivas. Antes de Fernando sair de casa, ela fez o seu papel de mãe. As recomendações foram para que o filho não chegasse tarde, tomasse cuidado com as companhias e não consumisse bebida alcoólicas e cigarro. “Eu também te amo, mãe”, foi a resposta do caçula.

Momentos antes do acidente, no domingo pela manhã, Fernando ainda voltou para a rua onde mora e parou em uma padaria. Em seguida, recebeu uma ligação em seu celular. Eram amigos, que pediram uma carona até o Núcleo Geisel. Fernando não voltou mais para casa.

No ano passado, foi aprovado projeto de lei do vereador Arildo Lima Júnior (PP), instituindo o dia 9 de novembro como o Dia da Não Violência no Trânsito.