O Instituto Geral de Perícia (IGP) chegou ao local aproximadamente quatro horas após a colisão. Segundo o perito Gilmar Bandeira, o laudo contendo o motivo da colisão deverá ser divulgado em 30 dias. O prazo pode ser prorrogado. “Averiguamos a disposição na rodovia. A perícia é responsável pela verificação dos danos registrados tanto no microônibus, quanto no caminhão. E, através do tacógrafo, podemos calcular a velocidade em que ambos os veículos trafegavam no momento da colisão”, explica. Os primeiros cálculos, realizados ainda na pista, apontavam que os dois veículos estavam a uma velocidade média de 80Km/h.
Falta de sinalização na pista pode ter propiciado a colisão
Desde fevereiro deste ano, a BR-471 passa por obras de recuperação. Segundo o Dnit, melhorias estão sendo feitas entre o trevo da Vila da Quinta – localizado a 44 quilômetros do local do acidente – e o município do Chuí. A obra, orçada em R$ 25 milhões, consiste na colocação de uma nova camada asfáltica e na recuperação do acostamento.
No entanto, durante os últimos oito meses, a rodovia está sem sinalização. A Polícia Rodoviária Federal (PRF), inclusive, encaminhou há cerca de 60 dias um ofício ao Dnit, solicitando a colocação de placas, além da demarcação divisória da pista. “A falta de sinalização adequada pode ter sido determinante ou até mesmo ter causado o acidente”, fala o chefe-adjunto do posto da PRF da Vila da Quinta, Adonay Oliveira.
Além disso, é possível notar que a nova camada asfáltica não está sendo colocada exatamente em cima da antiga pista, faltando cerca de 20 centímetros em cada lado da rodovia, que já é estreita.
De acordo com o engenheiro do Dnit, Vladimir Casa, a obra não pode ser apontada como causa do acidente, considerado por ele uma fatalidade. O engenheiro diz que a sinalização ainda não foi disponibilizada, pois a colocação do asfalto encontra-se em fase de finalização. “O cronograma da obra está um pouco atrasado devido às condições climáticas. O trabalho é dificultado por dias muito frios ou chuvosos. A sinalização desta rodovia federal será colocada, independente do acidente, no início de outubro. Não temos como colocá-la enquanto o asfalto não é concluído”, declarou.
Casa fala que o estreitamento da faixa não causou a colisão, “pois foi um acidente frontal e que aconteceu ao amanhecer, quando já havia certa iluminação natural na pista. São apenas poucos centímetros a menos”, falou.
A obra na BR-471 é de responsabilidade do consórcio entre as construtoras SBS e MAC. A empresa Mac Engenharia pertence ao empresário Marco Antônio Camino, um dos investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal em possíveis desvios de verba pública, no mesmo procedimento que envolve os deputados federais José Otávio Germano (PP) e Eliseu Padilha (PMDB) e o presidente da Assembléia gaúcha, Alceu Moreira (PMDB).
Autoridades de Santa Vitória lamentam a maior tragédia do Município
Assim que foram comunicadas do acidente, as autoridades de Santa Vitória do Palmar dirigiram-se até a BR-471. O prefeito do Município, Cláudio Pereira, declara que esta foi a maior tragédia da história da cidade. “Trata-se de um fato inexplicável. A grande maioria dos passageiros são pessoas de baixa renda que, diariamente, deslocavam-se para cidades vizinhas (Pelotas e Rio Grande) para fazer exames e consultas que não são disponibilizados em Santa Vitória”, contou.
Segundo ele, o microônibus pertence à Secretaria Municipal de Saúde e foi adquirido no ano passado. A data de fabricação do veículo é de 2006, segundo documento encaminhado à Polícia Rodoviária Federal.
O prefeito, que concorre à reeleição pelo PT, alega que o microônibus possuía todo o conforto necessário para transportar os pacientes. “São pessoas que dependem de tratamento e lutam todos os dias por qualidade de vida. E foi justamente numa destas viagens que perdemos seis conterrâneos. Lastimável”, fala.
De acordo com ele, todos os passageiros que se dirigiam para exames e consultas são pacientes do SUS. Todos os dias, o veículo recolhia os pacientes em suas casas e os levava até os hospitais e clínicas onde haviam exames e consultas pré-agendadas. “Nosso motorista é experiente e está acostumado com a estrada”, fala.
O prefeito explica que a administração pública de Santa Vitória do Palmar vinha disponibilizando médicos para atender os pacientes no próprio Município. “Mas existem casos em que os pacientes dependem de equipamentos que não existem na cidade, forçando-os a se deslocar a cidades próximas.
A secretária Municipal da Saúde de Santa Vitória, Vera Martins Netto, lamentou a tragédia. “A cidade é relativamente pequena e todos que estavam no ônibus são conhecidos. A Prefeitura está chocada com tal fatalidade. Isso não podia ter acontecido justamente com pessoas que estão lutando pela sua saúde. Entre os óbitos registrados estavam pacientes que necessitavam de exames como mamografia, quimioterapia, ressonância magnética, radioterapia, entre outros”, disse.