Belo Horizonte, Leopoldina e Teófilo Otoni – O finado Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), extinto pelo governo federal em 2001, deixou um espólio de pelo menos 700 imóveis em todo o país. Além de centenas de casas – como as ocupadas por engenheiros do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), viúvas, aposentados e terceiros – há galpões, pátios, lotes, escritórios e até campos de futebol, que em muitos casos estão longe de voltar às mãos do poder público. Estado com a maior malha rodoviária do país, Minas Gerais virou área fértil para o abandono ou espoliação desses bens. Interior afora, as propriedades da autarquia estão em situação de penúria ou caíram nas mãos de particulares, que não pagam nem um centavo à União.
No posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) da BR-116, em Leopoldina, na Zona da Mata, o espaço é acanhado para os 15 agentes que se revezam no arriscado trabalho de patrulhar um dos trechos mais perigosos da Rio-Bahia. Enquanto os patrulheiros se espremem entre as duas pistas, uma empresa privada explora, gratuitamente, área da União com 20 mil metros quadrados, sendo 3 mil edificados, no km 777 da rodovia.
De acordo com a Secretaria de Estado da União (SPU), o imóvel que os policiais sonham em ocupar, apenas cinco quilômetros distante do posto de vigilância, foi erguido pelo DNER. Ele integra um total de cinco propriedades, sendo três em Minas, construídas para servir de apoio a trabalhadores e usuários da rodovia. Em fevereiro de 1982, o órgão resolveu arrendá-las à BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, devido ao potencial para a instalação de postos de combustíveis.
Em Leopoldina foram feitos, com dinheiro do contribuinte, motel, restaurante e lanchonete. O contrato previa a administração dos empreendimentos já instalados e do ponto de abastecimento, batizado de Acapulco, por cinco anos, renováveis por mais cinco. Mas a empresa perdeu o interesse comercial e, em 1989, os subarrendou a um terceiro por tempo indeterminado, o que, para a Gerência do Patrimônio da União em Minas, é irregular, pois o acordo original tinha prazo para terminar.
No local, a MG Terminais Rodoviários, que mais tarde mudaria a razão social para Seta Terminais Rodoviários, montou uma movimentada parada de ônibus, com restaurante. Anos se passaram, o Brasil trocou de moeda três vezes e, em 1998, o empreendedor pagava à distribuidora R$ 0,03 de aluguel. Naquele ano, a empresa avaliou que não valia a pena continuar cobrando e parou de enviar os boletos, pois a despesa com os correios eram mais altas que o valor recebido.
A partir daí, segundo documentos da SPU, o poder público não recebeu mais nada. A BR chegou a mover ação de reintegração de posse contra a empresa, mas perdeu o interesse e ela foi arquivada em 2003. Os detalhes do caso estão nas gavetas da Justiça de Leopoldina.