Papéis de concessionárias de rodovias podem ser boas defesas em tempos de volatilidade no mercado acionário. A opinião dos analistas que acompanham o desempenho setor está calcada nas altas margens de geração de caixa das empresas, com margem Ebitda acima de 60%, e na base de reajuste do valor dos pedágios, que é o IGP-M, índice geral de preços.
A oferta não é extensa: as líderes CCR e OHL e a Triunfo Participações são negociadas, mas outras empresas, como Ecorodovias e Invepar (da OAS Construtora e Previ) têm capital aberto ou controladas listadas, mas não negociam ações.
A Triunfo, que tem entre as controladas Concepa e Econorte, está listada no Novo Mercado, mas tem pouca liquidez e por isso os analistas não fazem um acompanhamento aprofundado dos papéis. Na sexta-feira, por exemplo, o volume de negociação das ON da Triunfo foi de R$ 2,5 mil, apesar do bom percentual de ações em circulação, de 39,5% de float. As ações fecharam a R$ 5,00 com alta de 0,2% e, no ano, acumulam desvalorização de 27,54%.
A Primav Ecorodovias não tem ativos negociados no mercado a vista e, nos últimos três anos, fez apenas emissão de notas promissórias. No operacional, pesa a favor o fato de o grupo ter sua própria produção de massa asfáltica, que barateia a manutenção de seus trechos. Mas, pelo porte das companhias e volume de negociação, CCR e OHL são o foco dos analistas.
“É um setor atrativo em momentos de maior volatilidade pela característica de forte geração de caixa, com margem Ebitda da ordem de 63%, e capex (investimento) alto no início da operação dos trechos, mas a partir do quarto ano os gastos são apenas de manutenção. Abre espaço para retorno em dividendos ou entrada em novos projetos”, avalia Marco Saravalle, analista de investimento da Coinvalores.
A melhor oportunidade, para a corretora, é a ação da CCR, devido ao valor de mercado, liquidez, governança corporativa e qualidade das concessões – como Autoban, Nova Dutra e Rodoanel, que começa com cobrança de tarifas em dezembro.
Para Nicholas Barbariza, da Hera Investments, o setor tem boas perspectivas pelo crescimento médio tradicionalmente em pontos maiores que o crescimento do PIB, e traz segurança para o investidor que quer fugir da oscilação das commodities. “Mas existem incertezas. A OHL fez aquisições agressivas de lotes com tarifação que o mercado entende como baixas, mas ela está apostando em crescimento grande no volume de veículos nas novas vias.”
Ele se refere à mudança no modelo de outorgas ainda pode trazer surpresas, pressionando os lucros da atividade – bem como a cotação das ações na bolsa. A definição tradicional nos leilões de trechos era a maior oferta pela concessão, mas no último leilão de grande volume o governo federal definiu a concessionária pela projeção do menor preço cobrado de pedágio.
A primeira a ganhar nesse modelo foi a OHL, que em fevereiro firmou 14 contratos com o governo federal e investimento de R$ 4,5 bilhões em cinco anos, o que gera a incerteza sobre o desempenho em curto e médio prazo da companhia. Apesar disso, é a que registra maior valorização, acumulando alta de 21,53% este ano.
“O leilão sobre menor preço de pedágio pressiona bastante a margem de ganhos, mas cobrar pedágios muito caros torna o modelo de concessões privadas inviável. O mercado tem que ver se as empresas não vão se canibalizar sem resultado, baixando o preço só para ter mais trechos”, diz Fausto Gouveia, analista da Alpes Corretora.
Para o analista da Coinvalores, a mudança pode não ser caótica. “O último leilão foi um marco no governo. A média de cada pedágio cobrado de São Paulo a Curitiba será R$ 1,00, o que deve trazer rentabilidade para o capital investido mas não nas margens atuais”, avalia Saravalle.
Ele pondera que o momento do País mudou, e o formato do leilão acompanhou essa evolução. “No início das concessões, no final da década de 1990, o Brasil era outro, com riscos mais altos de captação de recursos e maior dificuldade de acesso ao capital. Mas o grau de investimento, obtido este ano, deve beneficiar o negócio, atraindo capital do exterior”, diz. Para as concessões já firmadas, os preços devem sofrer reajuste da ordem de 11% no segundo semestre, conforme o indicador de inflação. “A recomendação é de compra dessas ações e do setor de energia, que são papéis defensivos. A valorização da CCR está bem melhor que o CDI, por exemplo”, ressalta Gouveia.