Reflexo da urbanização nos 21 quilômetros da RS-405, o comerciante Elemar Dias de Oliveira mantém há dez anos uma lancheria de beira de estrada na localidade de Alto Vila Melos, em Vale Verde. Casado e pai de dois filhos, Dema, como é conhecido, decidiu que ali seria o melhor ponto para seu comércio. Confessa que parte do sustento familiar vem dos lucros com o bar, onde motoristas e caminhoneiros costumam parar e descansar. O restante da renda é obtida com a produção de tabaco em terreno próximo dali. No entanto, demonstra preocupação quando se refere às condições da estrada, que hoje não oferece segurança para quem trafega nem para os moradores das margens, como ele e sua família.
A operação tapa-buracos feita em meados deste ano pelo 3º Distrito Operacional do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), com sede em Santa Cruz do Sul, resolveu superficialmente a situação. As panelas formadas com o desgate da primeira camada do asfalto retornaram para desafiar, diariamente, os motoristas que dependem da rodovia para chegar ao local de destino. A RS-405 tem início no entroncamento com a RSC-287, no distrito de Pinheiral, em Santa Cruz do Sul, passa por Passo do Sobrado e algumas localidades do município de Vale Verde.
A precariedade de trechos da rodovia é resultado, em especial, do aumento do fluxo de veículos pesados, que se valem da estrada para desviar do pedágio ou a utilizam como rota alternativa em direção à capital gaúcha, Porto Alegre, ou ao Porto de Rio Grande. O comerciante e produtor de tabaco Dema recorda de um episódio que quase trouxe abaixo a varanda de sua lancheria. “A roda de um caminhão se desprendeu com o impacto do buraco e veio em direção à casa, derrubou um dos postes que sustenta a varanda e estragou nosso carro. A velocidade do pneu foi tanta que, se não fosse o veículo estacionado aqui na frente, parte da casa estaria destruída”.
ATENÇÃO
Assim como Dema, os proprietários do posto de combustível e da borracharia perto do quilômetro 10, Roque Werlang e Wagner Stork, também temem a falta de segurança e sinalização da via. “Com essas condições, o nosso trabalho aumenta. Pneus furados chegam aqui toda a semana, mas não queremos trabalhar com a desgraça dos outros”, afirma Werlang. Perto dali, formou-se um buraco profundo no meio de uma das faixas e que evidencia a base para a camada asfáltica. Este é um dos pontos mais críticos da RS-405 e que obriga os motoristas a redobrarem a atenção, desviarem e a transitarem na pista contrária.
Igual comportamento deve ser adotado na altura do quilômetro 20, no distrito de Pinheiral. Difícil é escapar da seqüência de crateras formadas pelo desgate da primeira camada da pavimentação e que ocupam as duas pistas. A falta de sinalização tanto de placas quanto da pintura divisória de faixas, além da inexistência de acostamento ao longo de todo o percurso, contribuem para o risco iminente de acidentes e mortes.
O prefeito de Passo do Sobrado, Elto Dettenborn, esteve na sede do Daer em Porto Alegre no fim do mês passado. A visita serviu apenas para oficializar o pedido de recapeamento da rodovia pois, conforme ele, não foi recebido pelo diretor-geral. Até o momento, não recebeu retorno sobre a solicitação.
POSIÇÃO DO DAER
O Daer informou, por meio de sua assessoria, que já homologou a licitação realizada para escolha da empresa fornecedora de material. Agora, a fase é de preparação de documentos para que se possa assinar o contrato. A equipe do 3º Distrito Operacional de Santa Cruz do Sul – responsável pelos reparos na RS-405 – vai executar operações tapa-buracos nas rodovias pelas quais responde e que necessitam de melhorias. Não há data prevista para o início dos trabalhos. Mas assim que os serviços começarem, a ordem de prioridade é a RS-405.
CONFORMISMO E CAUTELA
O taxista Rolando Schaefer, 71 anos, aprendeu a conviver com os buracos e perigos da rodovia estadual. Morador de Passo do Sobrado, o ex-caminhoneiro afirma que a situação não é um privilégio da RS-405. Para ele, muitas outras estradas também apresentam crateras e pouca segurança. “É preciso ser um motorista cauteloso”, diz Schaefer, taxista há 34 anos e que transporta clientes para Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul. Ainda que tenha aprendido a driblar os obstáculos, tem esperanças de melhorias no trecho.