O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de inquérito ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de investigar envolvimento de deputados, senadores, ex-ministros, no esquema da Operação Lava Jato. Rodrigo Janot, sugere que parlamentares, ex-parlamentares, ex-ministros e ex-governadores estariam envolvidos em uma “organização criminosa complexa”.

Dois dos deputados mais ativos na revogação da Lei do Descanso dos motoristas profissionais estão na lista do Procurador, são eles Jerônimo Goergen do PP/RS, autor do Projeto de Lei que gerou a revogação da Lei do Descanso, e Vilson Covatti (PP/RS), que foi vice-presidente da Comissão Especial criada para revogar a lei. Covatti preferiu não se candidatar nas últimas eleições e elegeu o filho no seu lugar. Tanto Goergen como Covatti filho e pai, estiveram ativos durante a paralisação dos caminhoneiros, principalmente apoiando Ivar Schmidt, que surgiu como líder rebelde da categoria.

Naturalmente que a investigação não significa culpa mas indícios sérios, na avaliação do Procurador, de participação em esquema criminoso. Entretanto, demonstram que esses deputados empenhados na revogação da Lei do Descanso não são considerados coroinhas de igreja pela procuradoria.

Para quem não sabe, a Comissão Especial tinha como Presidente o deputado Nelson Marquezelli, o mesmo que ,segundo o Correio Braziliense, contratou falsos caminhoneiros, que ficaram no Plenário da Câmara,fingindo que apoiavam as mudanças na lei propostas por deputados ligados ao agronegócio e embarcadores em geral. O outro membro ativo da Comissão foi Valdir Colatto, relator da nova lei, que também acompanhou os caminhoneiros nas últimas reuniões em Brasília. Colatto não registra em seu curriculum nenhum empenho em favor da classe dos caminhoneiros. Sempre esteve envolvido com os embarcadores, principalmente do agronegócio.

Dois deputados que também ocuparam a vice-presidência da Comissão Especial foram Hugo Leal (PROS-RJ) e Vanderlei Macris. Leal é Presidente da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro e autor da Lei Seca e, apesar de fazer parte da bancada do Governo, sempre foi contra a nova lei e defendeu até o último momento a preservação da Lei do Descanso, com alguns ajustes. Vanderlei Macris, do PSDB-SP também foi contra o relatório da Comissão que gerou a nova lei dos caminhoneiros. Macris defendia, assim como Hugo Leal, que a Comissão Especial tinha obrigação de aperfeiçoar as eventuais imperfeições da lei e não revogá-la com uma nova, como ocorreu. Apesar disso, na hora da votação no Plenário, Macris votou a favor da revogação da Lei. Apenas Hugo Leal manteve-se firme mesmo bombardeado pelos deputados dos embarcadores e pelo próprio Governo. A postura de Hugo Leal foi sempe elogiada pelas entidades de vítimas de trânsito, Ministério Público do Trabalho, médicos especializados em medicina de tráfego, enfim, todos que defendiam a preservação da Lei do Descanso. Nenhum dos dois parlamentares, Hugo e Macris, faz parte da lista “negra” do Procurador.

Já a ex-ministra, hoje Senadora Gleisi Hoffmann atuou em prol da tese do agronegócio e dos embarcadores apoiando a revogação da Lei 12.619/12 quando era Ministra-Chefe na Casa Civil da Presidência da República. Segundo fontes ligadas ao Planalto, Gleisi apoiou os embarcadores que seriam simpáticos a sua candidatura ao Governo do Paraná. Para seu desgosto ela foi flagorosamente derrotada. Gleisi também faz parte da lista “negra” de Janot.

Conforme já informamos, os personagens que serão investigados estão sob suspeita mas isso não quer dizer que sejam culpados, nem que a denúncia seja aceita pelo STF.

Entretanto, quem apoiou a revogação da Lei do Descanso parece viver apenas o início de um inferno astral. As mortes nas estradas, em decorrência de acidentes com motoristas profissionais, fruto da lei que esses políticos apoiaram e que leva a fadiga dos motoristas, será uma lembrança sombria e diária da responsabilidade dessa gente. Tudo indica que terão que conviver com o inferno terrestre do sangue das estradas por muito tempo antes de seguirem viagem para seu destino derradeiro que não parece promissor, nem ser o paraíso celestial.