Alucinações, redução da capacidade de atenção, hipertensão, perda de consciência e desidratação. Estes são alguns dos perigos ao volante provocados pelo uso de drogas e razão para a adoção do exame de toxicologia para motoristas profissionais a partir de 1º de janeiro em todo o país. O tema foi discutido com donos de clínicas médicas na manhã de ontem, quinta-feira (24) na série de seminários promovidos pelo Detran durante a Semana Nacional do Trânsito, no Cine Odeon, no Rio. Segundo o pesquisador Tiago Severo Peixe, doutor em toxicologia da Universidade Estadual de Londrina (PR), a medida já reduziu em 80% a quantidade de mortos no trânsito nos EUA por uso de entorpecentes desde que entrou em vigor, na década de 1990.

O cientista estima que 30% dos motoristas profissionais, como caminhoneiros, taxistas e topiqueiros, consumam algum tipo de droga para trabalhar. “Fizemos uma pesquisa no Porto de Paranaguá (PR), na qual abordamos 700 motoristas. A cada três, perguntávamos se topariam fazer um exame de urina para verificar se houve consumo de alguma droga e a grande maioria se esquivou. Pela nossa amostra, vimos que 8,1% usaram maconha, cocaína e anfetamina, mas, como muitos não quiseram fazer o teste, estimamos que, pelo menos, 30% sejam usuários de drogas”, explicou Tiago.

No Brasil, o exame será feito por fio de cabelo e detectará a presença de anfetaminas, maconha, cocaína, crack, haxixe e opioides (medicamentos feitos a partir do ópio, como a morfina).

— Estaremos na vanguarda desse processo. Poucos países no mundo (EUA, Alemanha, França e Noruega) fazem esse controle. Os norte-americanos já até discutem ampliar a sua exigência para todos os motoristas. O uso dessas substâncias põe em cheque a nossa percepção e a nossa autonomia ao volante, fazendo com que a falta de reflexo numa fração de segundo provoque um acidente — afirmou o pesquisador, acrescentando que o exame será capaz de detectar se o condutor consumiu aquelas drogas até 180 dias antes do exame.

Mediadora do seminário, a diretora de Habilitação do Detran, Janete Bloise, destacou que a mudança de comportamento ao volante passa também pela educação e pela consciência de cada um.

— Não acredito num profissional de trânsito que sai daqui e atravessa a rua fora da faixa de pedestres ou pega um táxi e não usa o cinto de segurança. O Brasil avança muito em relação a esses motoristas, que nos põe em risco no trânsito. E ainda temos até o fim do ano para discutirmos mais o assunto –, afirmou Janete para uma plateia de 107 médicos, que ainda ouviu uma boa notícia da ouvidora do Detran, Karina Continentino Porto: “de janeiro a agosto, só foram registradas 17 reclamações contra as clínicas credenciadas junto ao Detran.

Referindo-se ao exame toxicológico obrigatório, o diretor da Divisão Médica do Detran, Gustavo Leal, disse que o setor está muito motivado para treinar as equipes médicas das 394 clínicas conveniadas, porque elas começarão a receber questionamentos dos usuários.

— E vamos analisar as formas que esses motoristas que consomem drogas usarão para tentar burlar a lei – arrematou o médico.

Já a psicóloga Francine Simões, especializada no trânsito, ao defender a obrigatoriedade do exame, apontou a educação em casa como melhor caminho para reduzir a violência nas ruas e estradas:

— A educação vem de casa. Se a minha ação não for condizente com o que digo, haverá um ruído de comunicação com as crianças. As escolas poderiam levar o trânsito para aulas de matemática e até de história”.

Sebastião Gomes

Alba Acioly alertou os donos de clínica sobre a necessidade do bom atendimento

O público também assistiu a uma palestra da consultora Alba Acioly, do Sebrae, sobre como incrementar a qualidade do serviço prestado pelas clínicas. Ela destacou a importância do uso de novas tecnologias e de atualização diante do mercado. E, principalmente, de ouvir a clientela. Para Alba, a distinção de qualidade entre esses estabelecimentos começa no atendimento: “

— Temos que sair do quadrado. Estamos no século XXI e precisamos ver o que acontece lá fora. É preciso saber o foco do seu negócio, quem são seus clientes, seu público-alvo e seu diferencial competitivo. O cliente quer ser bem atendido e isso é o mínimo que ele espera. Ele vem movido por uma necessidade e tem uma expectativa em relação ao serviço, e te avalia por isso. Eu me surpreendi com o que vi no Detran, com muitas pessoas com a mente aberta, e o público precisa saber disso – frisou a consultora”.

Fonte: Detran-RJ