Enquanto não tira da gaveta obras estruturais capazes de acabar com a carnificina no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) prepara um pacote de medidas paliativas para reduzir a incidência de mortes nos frequentes acidentes na via que corta a capital. O órgão estuda a instalação de câmeras para monitorar o trecho de 26,2 quilômetros e apressar o atendimento às vítimas. A estrutura deve contar também com ambulâncias e guinchos, que ficarão de plantão, a exemplo do que ocorre em rodovias privatizadas. “Não serão aplicadas multas por meio desse acompanhamento”, assegura o superintendente da autarquia no estado, Sebastião Donizete de Souza.

Na semana passada, a última tragédia no Anel – que interliga as principais rodovias da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – deixou cinco mortos, entre eles uma criança de 1 ano e meio, quando um caminhão desgovernado bateu em 13 veículos. Já são 22 os mortos na rodovia somente este ano. A instalação de câmeras é sugestão de estudo de técnicos da Universidade Federal de Santa Catarina, feito a pedido do Dnit. A ideia é um monitoramento ininterrupto do trecho. “Ainda não temos data para divulgar a decisão do Dnit a respeito dessa proposta. A necessidade imediata é diminuir os problemas até que mudanças estruturais sejam feitas”, explica Donizete.

Ontem, uma audiência pública na sede do Dnit marca o início da concorrência para obras na rodovia, que já têm garantidos R$ 700 milhões dos cofres da União, desembolsados em parcelas até 2012. Estão previstas 17 intervenções nos principais acessos, entre elas o trevo do Bairro Betânia, na Região Oeste da capital, assim como 11 trincheiras e seis viadutos, além do alargamento dos elevados já existentes da construção de oito passarelas. O edital deve ser publicado em outubro, para obras no início do ano que vem.

A revitalização do Anel foi uma das discussões do seminário sobre infraestruturas viárias da Grande BH, promovido pela Fundação Dom Cabral e pela Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que reuniu na terça-feira integrantes do Dnit, das prefeituras dos 34 municípios da RMBH, do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais e da fundação. O vice-prefeito de BH, Roberto Carvalho, que também participou do evento, acredita que as obras na rodovia são fundamentais para o desenvolvimento da Grande BH. “Uma proposta é avançar na ideia do Anel Sul, que partiria de Betim até chegar a Ravena, distrito de Sabará”, diz. Segundo o vice-prefeito, a nova ligação ainda é estudada e não há orçamento previsto para a obra, que desafogaria 25% do tráfego do atual Anel.

Especialistas garantem que a demora para início das obras no Anel gerará ainda mais transtornos. “Se em cinco anos não forem feitas grandes intervenções no trecho, o trânsito passará de complicado a insustentável, as obras ficarão mais caras e mais acidentes acontecerão”, adverte Paulo Resende, coordenador do Departamento de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral. Somente nos sete primeiros meses deste ano, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) registrou pelo menos 1.397 acidentes, média superior a seis colisões por dia.

Plano

Além de obras viárias, discute-se para a Grande BH um plano de atuação conjunta de todas áreas sociais. Para reduzir a dependência em relação à capital, sonho antigo de prefeituras e do governo estadual, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana começa nesta quarta-feira a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI). O planejamento será criado pela Universidade Federal de Minas Gerais e envolve os 34 municípios da Grande BH. Orçado em R$ 3.091.085,00, o plano ficará pronto até dezembro de 2010. “A intenção do PDDI é descentralizar o desenvolvimento. A região metropolitana não deve ser obrigada a buscar atendimento de todas as necessidades básicas na capital”, defende a subsecretária de Desenvolvimento Metropolitano, Maria Madalena Franco Garcia.