Serra das Araras, na Rodovia Presidente Dutra. O trecho é sinônimo de medo para motoristas que precisam percorrer os oito quilômetros de descida no sentido São Paulo – Rio, na altura de Piraí, no Sul Fluminense, quase no limite com a Baixada.

Curvas acentuadas, precipícios e falta de acostamento compõem o cenário que assusta até motoristas experientes. Só este ano, de janeiro e maio, houve 196 acidentes, com 37 feridos e uma morte.

A duplicação da subida, no sentido São Paulo, para ser usada também em direção ao Rio é apontada como a melhor proposta. A atual pista no sentido Rio só seria usada em caso de emergência. Mas não há nem projeto pronto. A rodovia foi privatizada em 1996, e a proposta da obra é antiga, mas não saiu do papel, com aval da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Prioridade são marginais

A agência informou que em 2009 autorizou a concessionária Nova Dutra, que administra a via, a elaborar o projeto, mas deu prioridade à implantação de marginais. A agência vem adiando o cronograma. O último adiamento foi em 2010, a obra passou para início de 2012 e término em 2015.

Na seção ‘Promessa é Dívida’, que fiscaliza o cumprimento de promessas, O DIA constatou que, em 8 de junho do ano passado, a ANTT promoveu audiência pública para debater o assunto, mas nada foi feito.

O prefeito de Piraí, Arthur Henrique, o Tutuca (PMDB), que participou da audiência, disse que nunca mais foi chamado para discutir o assunto. “Há acidentes e engarrafamentos. Perdemos muito tempo para ir ao Rio”, diz. Tarcísio Pessoa (PT), prefeito de Paracambi, na Baixada, tem a mesma opinião. “Estamos a menos de 30 quilômetros de Piraí, mas o perigoso percurso da Serra afasta motoristas e a interligação com o Sul Fluminense”.

Carreta ocupa duas faixas

O motorista de caminhão Jéferson Bernardo Ferreira, 35 anos, transporta diariamente 38 mil litros de matéria-prima para cimento de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, até Volta Redonda. “O risco de acidente é muito grande. Como a carreta é grande, sou obrigado a usar as duas faixas da pista. O estresse é enorme”.

José Cabral da Silva, 41 anos, passa pela Serra das Araras três vezes por semana e, apesar da experiência de dez anos na profissão, ainda se assusta com o caminho sinuoso. “Com um pedágio caro, a rodovia nova já tinha que estar pronta”, diz ele, que gasta R$ 400 com pedágios de Campinas (SP) até o Rio.

ANTT considera serviço ruim

Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em 27 de abril, questiona a rentabilidade das primeiras rodovias privatizadas, como a Nova Dutra, que iniciou o contrato de concessão em 1996. O contrato tem ainda mais dez anos de vigência.

No relatório, a ANTT considera ruim o índice de qualidade dos serviços prestados pela Nova Dutra. A concessionária informou que enviou à ANTT todos os estudos necessários à modernização da Via Dutra e que está sempre disposta a encontrar soluções que tragam benefícios aos usuários.