Editorial: Autoridades vão aprender com a tragédia de Alagoas ou esquecê-la?
TRAGÉDIA: O trecho é muito perigoso, íngreme e com estrada de chão. Ônibus deveriam ser proibidos até que o local tenha acesso seguro. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Acidente ocorrido no domingo (24) é mais um como outros tantos similares no País

A tragédia do ônibus em Alagoas, que até o momento já registra 18 mortes, incluindo crianças e uma mulher grávida, corre o risco de ser rapidamente esquecida, como tantas outras ocorrências similares no Brasil.

Analisando o noticiário regional e ouvindo relatos de testemunhas que conhecem o trecho, torna-se evidente que ônibus não deveriam ser autorizados a subir até o Parque Memorial do Quilombo dos Palmares, administrado pela Fundação Cultural Palmares.

A estrada apresenta trechos muito íngremes, com espaço limitado para manobras, tornando-se um risco elevado para veículos grandes. Segundo relatos de pessoas que presenciaram a tragédia, inclusive vítimas, o motorista enfrentou dificuldades devido a um  defeito no veículo, ao tentar estacionar para desembarcar os passageiros. Apenas um deles conseguiu saltar.

O veículo acabou descendo e caiu em uma ribanceira, capotando várias vezes por mais de 100 metros. Ficou retido pela vegetação em local de grande risco, o que tornou ainda mais perigoso o resgate das vítimas.

A esposa do motorista reconheceu que ele estava com medo de subir a serra que dá acesso ao local, devido a problemas no sistema de freios do coletivo. Mas ele precisava trabalhar. Ela e a filha desistiram da viagem pouco antes da partida.

De nada adiantam as declarações de políticos, como prefeito, governador, ministra, presidente, em solidariedade as vítimas e a seus familiares. É preciso prevenir que fatos como estes ocorram. É nítido que não pensaram na segurança viária. Então, que pelo menos aprendam com a tragédia para evitarmos novas mortes.

Naturalmente, é essencial que as condições do veículo sejam investigadas, ainda que a Prefeitura de União dos Palmares tenha declarado que ele está com as vistorias em dia, e o Ministério Público de Alagoas tenha confirmado que está tudo regularizado: ônibus e condutor.

Como medida imediata, deve-se proibir o uso de ônibus para chegar ao Parque, até que sejam realizadas análises que comprovem a viabilidade de chegar ao local com segurança. Isso inclui avaliar a possibilidade de estacionar e manobrar veículos de grande porte sem risco.

Até o publicação deste editorial, não há conhecimento de nenhuma medida de suspensão da subida de ônibus até o local. Portanto, pode ocorrer outra tragédia a qualquer momento. Principalmente considerando-se a precariedade da frota de ônibus no Nordeste e restante do país.

Diante da relevância histórica do Memorial, que tem atraído um número crescente de visitantes — incluindo a presença de uma ministra no dia anterior à tragédia —, é fundamental que os investimentos na estrutura sejam acompanhados de melhorias no acesso, priorizando a segurança.

Enquanto avanços importantes foram feitos nas instalações do Memorial, é indispensável adotar medidas concretas para evitar que tragédias como esta se repitam.

Afinal, um local dedicado a homenagear a luta e a memória de um povo não pode se tornar sinônimo de descaso e risco à vida.