Um mecânico especialista em caminhões ouvido pelo Jornal Nacional, nesta segunda-feira, examinou os freios da carreta que se acidentou em Santa catarina, na semana passada, e ficou assustado com o que viu.

– Essa carreta tem seis freios e somente um está funcionando – disse Luiz Debastiani, dono da revendedora para onde foi rebocada a carreta acidentada, no acidente em que morreram 27 pessoas em Santa Catarina.

O mecânico mostrou cada defeito. Essa carroceria não poderia estar rodando. Ela não tem freio. A manutenção é zero.

– Não tem nem sequer tambor de freio. E a outra roda está totalmente isolada. Pararam a mangueira e não acionaram o freio. Essa carroceria não poderia estar rodando, principalmente, carregada. Ela não tem freio. A manutenção é zero – constatou.

Começou nesta segunda-feira, em Santa Catarina, a perícia do caminhão dirigido por Rosinei Ferrari, que, desgovernada, matou cerca de 20 pessoas que acompanhavam o resgate às vítimas da primeira batida, cerca de uma hora e meia antes, entre uma carreta e um ônibus lotado.

O caminhão levava 27 toneladas de açúcar e pertence à transportadora Turatto e Turatto, de Cascavel, no Paraná. A empresa informou que faz a manutenção periódica nos caminhões, mas que só vai se pronunciar depois da divulgação do laudo oficial, que também começou a ser elaborado nesta segunda-feira, por um perito da Secretaria de Segurança de Santa Catarina.

– No início da semana que vem, no máximo terça ou quarta-feira, já se tem as conclusões finais – afirmou o perito Luiz Maran.

No total, 13 pessoas que ficaram feridas na seqüência de acidentes permanecem internadas em hospitais da região.

Rosinei Ferrari é levado para hospital de Chapecó

Rosinei Ferrari foi transferido nesta segunda-feira do Hospital São José, de Maravilha, para o Hospital Regional do Oeste, em Chapecó. De acordo com o cardiologista e clínico geral do Hospital São José, Evandro Nicola, que cuida de Ferrari desde o acidente, o objetivo foi submetê-lo a um especialista em coluna, o médico Jorge Ferrabone.

Em Chapecó, Ferrari também engessou a coluna da cintura até o tórax. Isso porque uma ressonância magnética realizada na sexta-feira, em Francisco Beltrão, apontou fratura em cinco vértebras. Ele ficará engessado entre 60 e 90 dias. A previsão inicial era de que ele retornasse para Maravilha na terça-feira.

Motorista de carreta havia dito à polícia que estava sem freio

Preso em flagrante sob acusação de homicídio doloso, o motorista do caminhão que provocou a segunda série de mortes nos acidentes na BR-282, Rosinei Ferrari, de 28 anos, contou ao delegado de Maravilha (SC), Rodrigo César Barbosa, que ficou sem freio e tentou jogar o caminhão para o barranco, mas que quando fez isso, a carreta tombou e foi varrendo tudo o que havia pela frente. O motorista afirmou que não reparou que havia outro acidente na rodovia.

Vinte e sete pessoas morreram e mais de 90 ficaram feridas na tragédia. O caminhão de Ferrari ultrapassou os cones de sinalização colocados após o primeiro acidente na estrada, que deixou sete mortos, seguiu na contramão e arrastou carros e pessoas, provocando um desastre ainda pior que o anterior. Entre as vítimas, curiosos, sobreviventes do primeiro acidente, equipes de resgate e de reportagem.

A mulher do caminhoneiro, Luciane Ferrari, 27 anos, contou que o marido havia reclamado de defeitos no caminhão e que o acidente foi uma fatalidade. Mas, para o delegado titular de Descanso, Rudinei Charão Teixeira, não restam dúvidas de que Ferrari “assumiu o risco de matar, sem pensar nas conseqüências de seu ato”. Caso seja considerado culpado, Ferrari poderá ser condenado a uma pena que varia de seis a 20 anos de prisão. O motorista teria começado a dirigir em estradas há cinco meses.