A cada 7,5 km, motoristas encaram a passagem por um controlador de velocidade

Tramandaí – Transitar pela Estrada do Mar (RS-389), que liga Osório a Torres, é um verdadeiro teste de agilidade para os motoristas. A rodovia, um dos principais acessos às praias do litoral norte, possui 90 quilômetros de extensão, onde há 12 pontos de fiscalização e a velocidade máxima permitida é de 80 quilômetros por hora. Os números revelam: a cada 7,5 quilômetros, um controlador de velocidade.

Entre os motoristas, a opinião é praticamente unânime: “Tanto pardal é um exagero”. A fala é do corretor de imóveis Joelcir Cardoso, 39 anos, de Torres. Ele utiliza a estrada semanalmente e reclama da fiscalização. “É horrível ter tantos pardais. Fico tenso porque é preciso estar atento o tempo todo. Deveria ter somente em locais de risco, como nas proximidades de uma escola.” Para ajudar a driblar a tensão e garantir a salvação dos pontos na carteira de motorista, ele instalou um Sistema de Posicionamento Global (GPS), onde marcou os pontos onde há pardais. “Enquanto a BR-101 não for duplicada prefiro ir por aqui”, diz.

De acordo com o comandante do 3.º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, capitão Marcelo Ranherie de Souza, os pardais ajudam a diminuir os índices de acidentalidade. “Há um controle maior da rodovia, pois são diversos equipamentos que vigiam os motoristas em toda a via”, explica.

Limite

E parece que, pelo menos para algumas pessoas, a lição é válida. A empresária Otília Cardoso, 59, de Torres, conta que em uma viagem levou duas multas. “Aprendi a segurar o pé. Ando a rodovia inteira a 80 quilômetros por hora para garantir. Mas chega a dar sono”, brinca. Ela diz que até concorda com os controladores, mas que o limite de velocidade deveria ser maior, senão, os motoristas reduzem para passar pela fiscalização, mas aceleram entre os pardais.

Esse é um dos fatores apontados como desvantagem do sistema pelo capitão Marcelo. “Com os radares móveis os motoristas não sabem onde há fiscalização e mantêm atenção em toda a pista. Com os fixos, a probabilidade de que aumentem a velocidade após passar é muito grande.” Para ele, seriam importantes eventuais trocas de locais, que são determinadas e executadas pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer).

Apenas dois carros multados a cada mil

O alto número de pardais demonstra a fragilidade da Estrada do Mar. Segundo o coordenador da divisão de Trânsito do Daer, engenheiro Emir Marsiero, o critério para distribuição dos controladores são os índices de acidentalidade por excesso de velocidade e estudos técnicos na rodovia. Em 2008, foram 70.323 multas na RS-389: uma média de 0,002% dos veículos passantes (dois a cada mil carros). É um índice baixíssimo”, avalia.

Em cinco anos de fiscalização eletrônica, foram instalados, progressivamente, 12 pontos. Número que o comerciante aposentado Oscar Danilo Brenner, 71 anos, considera um exagero. “Acho que o foco é arrecadar com as autuações”, declara. O engenheiro do Daer explica que todo o valor arrecadado com as multas, conforme determinação do Conselho Nacional de Trânsito, é aplicado na segurança da estrada e na compra de novos equipamentos de fiscalização. “Há também valores que são destinados à publicidade e campanhas educativas.” Além dos pardais, o Daer disponibiliza instrumentos como radares móveis e bafômetros ao Comando Rodoviário.

Uma nova rota de ligação à free way

Uma nova ligação entre a Estrada do Mar e a free way (BR-290) deve desafogar o trânsito no retorno do litoral norte. Com um investimento de R$ 3,2 milhões, os veranistas que retornam para as suas cidades podem utilizar a rota alternativa, com acesso pela RSC-101. O trajeto facilita o trânsito, principalmente no entroncamento da estrada com a RS-030. Para utilizar a via, os motoristas devem seguir pela RS-389, passando pelo viaduto sobre a 030 (foto). No caminho, dois paradouros oferecem a vista do Parque Eólico, em Osório.

O Daer instalou, no início de janeiro, um conjunto de cinco placas de orientação. Quatro estão antes do viaduto sobre RS-030 e outro fica após, próximo ao parque, indicando o acesso à free way.

Lagos, os vilõaes da rodovia

Das 18 mortes que ocorreram na Estrada do Mar em 2008, nove foram em acidentes onde houve a submersão do veículo (mas nem todas com vítimas afogadas). Devido a esses números, no ano passado o Ministério Público determinou que o Daer nomeasse uma comissão para estudar alternativas. Conforme o engenheiro Emir Marsiero, coordenador da divisão de Trânsito do Daer, a maioria dos lagos está entre Capão da Canoa e Torres. “O principal fator é a saída de pista sem refúgio, e os automóveis acabam caindo na água. O Daer já tomou algumas providências, como a instalação dos guard rails e dos sonorizadores transversais”, explica. Segundo ele, em determinadas épocas do ano os lagos ficam com uma profundidade razoável, mas o aterramento é proibido. “O local é criatório de animais.”

Para a dona de casa Maria Chassot, 64 anos, o dia 16 de fevereiro de 2000 foi de terror. Ela viajava com o marido, Ivo Chassot, 66, a irmã Irene Carmona, 53, a neta, na época com 12 anos, e a neta da irmã, de 1 ano. “Meu marido dirigia e teve um enfarte. O carro saiu da pista e caiu na água em Arroio Teixeira. Começou a afundar muito rápido”, conta. Maria se salvou porque dois rapazes que passavam pelo local a ajudaram a sair do veículo. “Só deu tempo de socorrer as crianças.” Na colisão, Maria perdeu o marido e a irmã, que morreu afogada, presa ao cinto de segurança.