O céu e o inferno. Esse contraste pode exemplificar bem as atuais condições das estradas que ligam o Recife ao Sul da Região Metropolitana. Para o mesmo destino, há dois caminhos bem distintos: um é o das nuvens. Fica na Rota dos Coqueiros, a primeira rodovia privatizada de Pernambuco. Basta pagar pedágio e trafegar sem medo de cair em buracos. O segundo, o das pedras, passa por rodovias administradas pelos governos federal e estadual. Gratuito, está repleto de obstáculos e perigos. Na primeira opção, a Estrada do Paiva, como a rodovia ficou conhecida após a inauguração, há um ano, é possível chegar a Jaboatão dos Guararapes e ao Cabo de Santo Agostinho por um pavimento impecável. A outra exige paciência e coragem para andar pela BR-101 e PE-60. Na rodovia federal, crateras provocam quilômetros de congestionamento. Na via estadual, que nem parece mais uma rodovia, há terra por todos os lados.
A Estrada do Paiva parece um oásis em meio ao deserto. São apenas 6,2 quilômetros de extensão e, para percorrê-los, os condutores devem desembolsar de R$ 2 a R$ 23,40 nos dias úteis, conforme o tipo de veículo. Mas utilizá-la faz a diferença. Para muita gente, o gasto compensa diante da degradação em que se encontra a malha que deveria ser cuidada pelo poder público. Mas não é. Nem mesmo o fato de ser rota para o Complexo Industrial e Portuário de Suape, alicerce atual do desenvolvimento de Pernambuco, parece comover o governo.
Diante desse cenário, o JC decidiu levantar a questão: será que não é melhor pagar pedágio para ter estradas melhores, já que o poder público não consegue, sequer, fazer o seu dever? A reportagem percorreu trechos entre o Recife e Suape, na Região Metropolitana, passando por Jaboatão e pelo Cabo, e por parte do Litoral Sul. Encontrou motoristas que cansaram de correr riscos por causa dos buracos e de perder tempo e paciência nos congestionamentos. Gente que preferiu usar a rota mais segura em vez de esperar que o governo faça a manutenção das estradas com o dinheiro dos impostos dos contribuintes.
E não precisa andar muito para perceber a grande diferença. Os problemas das vias públicas começam em Jaboatão. A Avenida Castelo Branco, em Candeias, tem problemas sérios e históricos de alagamentos. Com qualquer chuva, inunda. O comércio está à beira da falência. A Estrada da Curcurana, em Barra de Jangada, não serve mais como opção. Também está totalmente degradada. Além de estreita, não tem acostamento e possui tráfego intenso.
Na saída da rota, os problemas continuam. A Estrada de Itapuama, que liga a Rota dos Coqueiros à PE-28, foi pavimentada pelo governo federal em parceria com a Prefeitura do Cabo, mas parece uma via abandonada. Não tem sinalização e ainda há trechos incompletos. E, mesmo o que já está pronto, parece velho. A drenagem é falha, há bueiros abertos, não há calçada e a areia se mistura ao barro que escorre das barreiras, invadindo a via.
Quem opta por usar a Rota dos Coqueiros, por outro lado, sente os benefícios da gestão privada. Paga caro, mais tem vantagens. O pavimento sempre está em perfeitas condições. Não há, pelo menos por enquanto, um único desnível. A estrada tem projeto paisagístico, sinalização vertical a cada 200 metros e horizontal em toda a extensão. Tudo em perfeito estado de conservação. As paradas de ônibus são novas e modernas.
Além da beleza, o motorista que atravessa uma das duas praças de pedágio da concessionária, seja em Barra de Jangada (Jaboatão) ou em Itapuama (Cabo), passa a dispor de uma espécie de kit-segurança. “É uma rodovia monitorada 24 horas. São 20 câmeras de segurança atentas a qualquer acidente, buraco ou motorista com carro quebrado. São quase cem funcionários envolvidos na manutenção e conservação. Há, ainda, ambulância, guincho e inspeção de tráfego”, ressalta o diretor operacional da Rota dos Coqueiros, Ivan Moraes. Para quem não pode pagar o pedágio, só resta sofrer diariamente na malha pública deteriorada.
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