Impasse sobre transporte escolar leva alunos a improvisar
Enquanto governo do Estado e prefeituras negociam um acordo para a realização do transporte escolar dos alunos da rede estadual, os estudantes são obrigados a encontrar alternativas para chegar às escolas nas cidades onde o ano letivo já começou. A pé, de bicicleta ou de carona com os pais, alunos tentam driblar o problema.
Desde a semana passada, quando as aulas foram iniciadas em alguns municípios do Estado, prefeitos ameaçam restringir o transporte apenas aos estudantes da rede municipal. Sem solução, a situação verificada ontem pode piorar a partir do dia 1º, quando as demais escolas estaduais retomam suas atividades.
Em Júlio de Castilhos, estudantes foram obrigados a ir a pé ou de bicicleta para a escola ontem depois que o prefeito do município, João Vestena (PSB), suspendeu o transporte dos alunos da rede estadual de ensino. Quatro escolas e mais de 300 estudantes foram atingidos pela medida.
– O jeito é vir de bicicleta. O pior é na subida, porque a mochila está pesada. Mas se não tem Van, não tem o que fazer – disse Douglas Pivotto, 10 anos, após enfrentar mais uma subida.
Sem transporte, os pais também tiveram sua rotina alterada. O agricultor Acemar José Dalla Corte, 43 anos, deixou de fazer a ordenha das vacas como de costume para levar o filho Andrio, 13 anos, e seus colegas ao colégio. No trajeto de sete quilômetros, Dalla Corte fez duas paradas para dar carona a cinco estudantes, que tiveram de se acomodar na carroceria da caminhonete, infringindo o Código de Trânsito Brasileiro.
– Estamos preocupados porque os alunos têm direito ao transporte e cada pai tem suas lidas. Nem sempre poderão trazer os filhos na escola, mas acho que o prefeito está certo. Tem de pressionar a governadora – afirmou Dalla Corte, que irá se revezar com os vizinhos para transportar os estudantes.
A situação se repetiu em Itatiba do Sul, no norte do Estado. Alunos como Cleison Gezebeluka, 11 anos, e Lucas Kovaleski, 12 anos, fizeram o trajeto de oito quilômetros até a escola de bicicleta. Em Tucunduva, na Região Noroeste, as escolas estaduais iniciaram ontem o ano letivo, mas os pais solicitaram o adiamento no resto da semana porque não têm condições de levar os jovens todos os dias. Assim, o reinício foi transferido para o dia 5.
A Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) faz reunião-almoço hoje com representantes das 25 associações para discutir o convênio do transporte escolar.
De acordo com o presidente da entidade, Glademir Aroldi, o custo estimado para transportar 181 mil estudantes da rede estadual este ano é de R$ 140 milhões. Os municípios se comprometem em arcar com R$ 60 milhões desta despesa, mas exigem que o governo repasse os outros R$ 80 milhões.
– O Estado precisa cumprir com sua responsabilidade. Parceria é um andar ao lado do outro, mas neste caso o Estado está andando nas costas dos municípios – enfatizou Aroldi.
Divididos em 10 parcelas, a primeira proposta do Estado de R$ 33 milhões não foi aceita pela Famurs. Ontem, em conversa com o secretário do Gabinete de Relações Institucionais, Celso Bernardi, Aroldi recebeu a informação de que o Estado estava trabalhando em uma nova proposta.
– É provável que saia uma proposta amanhã (hoje) – limitou-se a dizer o secretário, sem dar mais detalhes sobre os novos valores.