O índice de mortalidade no trânsito medido de acordo com a quilometragem percorrida pela frota no Brasil atingiu 55,87 mortes por bilhão de quilômetros rodados em 2008. O número, considerado grave, é de sete a 12 vezes superior ao da maioria dos países desenvolvidos, segundo pesquisa inédita desenvolvida na Escola de Engenharia de São Carlos (SP), da Universidade de São Paulo (USP).


O cálculo é resultante da aplicação de uma nova abordagem para apuração do risco no trânsito no país, testada pelo aluno Jorge Tiago Bastos e pelo professor do Departamento de Transportes da Universidade Coca Ferraz. A pesquisa tomou como referência informações oficiais disponíveis no período de 2000 a 2008, quando o número de mortes por acidentes de transito no Brasil cresceu 32,25%, o equivalente a 3,56% ao ano.

O valor apurado por essa metodologia é superior ao de países como Estados Unidos (7,10 mortes), Japão (7,7), Alemanha (6) e Suécia (4,4). Ao analisar as médias nacionais e por estado, o trabalho desenvolvido para dissertação de mestrado sobre a “Geografia da mortalidade no trânsito no Brasil” revela também a existência de disparidades regionais.

Em São Paulo, que registra o menor índice, o resultado foi 35,81 mortes por bilhão de quilômetros em 2008. No outro extremo, o Piauí apresenta o pior desempenho, com 146 mortes por bilhão. “Tem estados em situação boa e outros em situação alarmante”, revela Bastos em entrevista à Agência CNT de Notícias.

Maior precisão
Adotada em outros países, a metodologia de cálculo da mortalidade no trânsito considera a distância efetivamente percorrida pela frota rodoviária, para evitar distorções no resultado final. Como não existiam no Brasil informações relacionadas à movimentação de veículos nas vias, o pesquisador usou como parâmetro os últimos dados disponíveis na Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre o consumo de combustíveis.


Engenheiro Civil, Tiago Bastos explica que as estatísticas usadas tradicionalmente no país consideram o número de mortes por 100 mil habitantes ou por 100 mil veículos, o que torna as estatísticas imprecisas. “Os países desenvolvidos têm controle do fluxo de veículos nas rodovias e nas vias urbanas. Como a gente não tem esse controle no Brasil, a melhor forma foi considerar o consumo de combustível.”


O engenheiro afirma que os dados levantados podem ser usados para estabelecer comparações e direcionar políticas públicas voltadas para o trânsito. Estados mais motorizados como São Paulo, por exemplo, têm mais acidentes, mas o índice de mortes é menor proporcionalmente ao dos estados menos desenvolvidos. Outra tendência apontada no estudo é de que o desempenho seja melhor onde as políticas públicas são mais eficientes.


“Em estados onde os índices são menores, as ações são mais complexas porque as políticas mais básicas já estão incorporadas pela população”, acrescenta Jorge Bastos. Ele lembra que mesmo em países desenvolvidos existe uma tendência de estabilização do índice, o que pode demandar campanhas específicas visando a uma maior redução dos indicadores de mortalidade. “Em estados onde os índices são mais altos, a abordagem vai ser mais geral e é possível que ações tenham impacto maior”, conclui o pesquisador, que defende a adoção de políticas diferenciadas por estado.