São Paulo – Comprar uma carteira de motorista falsificada para dirigir pode colocar a vida de outras pessoas em risco. A afirmação é do superintendente da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul, Walter Fávaro, que participou hoje (03) da Operação Carta Branca que prendeu 19 pessoas, em São Paulo, acusadas de falsificar carteiras de habilitação e vendê-las para todo o Brasil.
“Um condutor que não tem condição de conduzir um veículo de grande potência ou um veículo de transporte com carga perigosa, transitando por nossas rodovias, coloca em risco a vida das famílias dos outros usuários que por ali transitam”, disse ele.
A organização criminosa presa hoje é suspeita de emitir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Ferraz de Vasconcelos, município da Grande São Paulo. Para isso, ela lançava informações falsas num sistema de computação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e os remetia, por meio de auto-escolas, despachantes e intermediários para os demais estados do país.
Legalmente, para obter uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o interessado deve primeiramente fazer exames médicos e psicotécnicos em clínicas credenciadas pelo Detran. Só após aprovação nesses exames é que o interessado procura um Centro de Formação de Condutores para fazer os cursos e exames teóricos e práticos.
Mas na Operação Carta Branca, o esquema já começava irregularmente nas próprias clínicas médicas: alguém, no lugar do candidato, fornecia a impressão digital que, algumas vezes, eram coletadas até mesmo por dedos de silicone ou de argila.
“O candidato a condutor sequer precisava vir aqui. Essa carteira era emitida sem a presença física dele, mediante fraudes no sistema de habilitação”, disse o promotor Marcelo Oliveira, do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Guarulhos. De acordo com ele, havia casos em que uma mesma digital era usada para 200 diferentes documentos.
“O perfil dos clientes eram de pessoas que se dispunham a pagar porque sabiam que dificilmente obteriam a CNH”, disse Oliveira, acrescentando que muitos desses clientes eram analfabetos e chegavam a pagar entre R$ 1,5 e R$ 1,8 mil para obter a carteira de forma irregular.
As investigações ainda não conseguiram apurar quantos acidentes de trânsito podem ter sido provocados por motoristas portadores dessas carteiras falsas, mas pelo menos um caso é conhecido: “Essa indiscriminada venda de CNH para o Brasil inteiro causou muito problema para a quadrilha porque, por exemplo, eles venderam carteira de motorista para um sujeito que tinha o pé torto, que atropelou um motoqueiro. E a partir de um incidente gerado por uma falha dessa, iniciava-se uma mobilização gigantesca para ir ao local, subornar quem estivesse no local para que aquilo não se tornasse um boletim de ocorrência”, citou.