Milhares de brasilienses devem deixar a cidade neste final de ano. Mas, se sair da capital federal pelo céu está difícil, pelas estradas a situação não é diferente. O tráfego intenso e a má conservação das rodovias que ligam Brasília ao restante do país aumentam os riscos de acidentes de trânsito. Desde os últimos dias de novembro, a equipe do Correio percorre as principais estradas que partem do Distrito Federal rumo aos extremos do país, as chamadas rodovias radiais. A reportagem tem avaliado as condições gerais das vias: estado de pavimentação, sinalização e manutenção.

A primeira estrada avaliada foi a BR-040, rodovia que começa no DF, passa por Goiás e Minas Gerais, terminando no Rio de Janeiro. Em parceria com o Estado de Minas, foram percorridos 1,5 mil km — entre Brasília e Belo Horizonte (MG) — durante dois dias. Buracos, asfalto danificado, faixas apagadas e ausência de placas de sinalização são verificados por todo o trajeto (veja arte). Ao longo do percurso, a reportagem registrou dois acidentes graves provocados por esses problemas.

O primeiro ocorreu em 28 de novembro, às 22h30, a 28km da cidade de João Pinheiro (MG). No local do acidente, o asfalto está danificado. Formou-se ali uma enorme ondulação na via. Motorista de um caminhão com placa de Pará de Minas (MG), Maurílio Luiz de Farias, 51 anos, perdeu o controle do veículo ao passar pela deformação. O caminhão cruzou a via e chocou-se contra as árvores na lateral da rodovia. Maurílio morreu na hora, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal. Dois dias depois, o veículo da vítima permanecia às margens da BR-040, completamente destruído. “O filho viria com ele e desistiu na última hora”, contou, ao passar pelo local do acidente, Rubens Severino. Caminhoneiro há 30 anos, ele era colega de Maurílio.

O segundo acidente ocorreu às 18h de 29 de novembro, a 40km de Três Marias (MG). O motorista de outro caminhão, com placa de Unaí (MG), perdeu o controle do veículo ao passar pelo asfalto molhado — havia chovido. O carro bateu em uma parada de ônibus e ficou atravessado na pista. Por sorte não houve feridos: o caminhão normalmente transporta 30 mil litros de combustível, mas estava vazio, e não havia ninguém na parada. Uma hora após o acidente, o tráfego de veículos era controlado apenas por moradores da região. Nenhum carro da Polícia Rodoviária havia chegado ao local.

Mau exemplo
Nem os órgãos responsáveis por zelar pela segurança e conservação da rodovia parecem cumprir a lei. O Correio flagrou um caminhão do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) transportando operários uniformizados de forma irregular. Na carroceria do veículo, pelo menos quatro homens viajavam junto com equipamentos. O carro seguia para Cristalina (GO). O DNIT é responsável pela obra de recuperação de 40km da rodovia, entre Luziânia (GO) e Cristalina. No trecho, só existe uma placa de sinalização: ela adverte a extensão da obra. Ao longo da área em recuperação, não há placas que indiquem a velocidade nem faixas na pista.

“Uma rodovia só pode ser aberta ao uso se estiver devidamente regularizada”, observa o professor Paulo César Marques, da Universidade de Brasília (UnB). Especialista em engenharia de trânsito, ele lembra que o crescimento urbano às margens de rodovias federais é um problema grave. São comuns as cenas de moradores que arriscam a vida para atravessar as vias, em geral de alta velocidade, de ambulantes às margens da estrada e de carros que entram e saem das localidades de forma repentina.

O empresário Márcio Teixeira Júnior, 37 anos, costuma fazer o percurso entre João Pinheiro e DF pelo menos uma vez por mês. Além de chamar atenção para os motoristas de carros de passeio que trafegam pelo acostamento e para o risco constante de assaltos na via, Teixeira considera que as condições do asfalto da BR-040 não suportam o peso dos caminhões. “Ao invés de recapeamento, eles colocam uma lama asfáltica. Os carros rodam na reta!”, indigna-se.