Na manhã de sábado, 1º, sobreviventes, familiares e amigos das vítimas do microônibus que se envolveu num acidente de trânsito no dia 25 de setembro, no quilômetro 470,9, da rodovia federal BR-471 (entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar) retornaram ao exato local da tragédia para celebrarem uma missa em homenagem aos seus entes queridos.

Dezenas de pessoas, vindas de Santa Vitória do Palmar, acompanharam com grande emoção a missa campal celebrada pelo padre da Diocese do Rio Grande Raphael Colvara Pinto. A homenagem teve início pouco depois das 10h e foi finalizada por volta das 11h30min, com uma longa salva de palmas.
“Estamos aqui hoje para trazermos uma palavra de consolo e esperança para aqueles que ficaram entre nós. Tenhamos certeza de que a morte não é o fim, mas sim a certeza de uma nova vida”, disse o padre Raphael.

Durante a missa, alguns parentes das vítimas leram trechos da Bíblia e homenagearam seus parentes com palavras de carinho e gestos com emoções.
Os familiares também deixaram em cima do altar improvisado na rodovia dezenas de flores e mudas de plantas que foram abençoadas pelo padre.
No final da missa, duas cruzes de alvenaria – uma com os nomes das sete vítimas do microônibus e outra com mensagens – foram fixadas no local da colisão entre os dois veículos, além disso, entre as cruzes, os familiares colocaram uma placa com as seguintes frases: “Não ponha em risco a segurança de todos. Se beber, não dirija”. Também foram lançadas diversas pétalas de rosas sobre a rodovia.

Quando chegaram ao local do acidente, parentes e amigos das vítimas passaram a procurar entre os destroços que permanecem no acostamento pertences de seus familiares.

De imediato, o pedreiro Luís Antonio Bobadilha, de 48 anos, viúvo de Vera Luciana Rodrigues, ficou muito emocionado à beira da estrada quando localizou a bolsa da mulher. “Ela não se desgrudava dessa bolsa. Foram oito vidas perdidas num acidente infeliz. Minha filhinha de três anos pergunta até hoje onde está a mãe dela, e eu não sei o que fazer”, desabafou Bobadilha.

O prefeito da cidade de Santa Vitória do Palmar, Cláudio Pereira, conhecido como “Batata”, também acompanhou e celebração e informou que no próximo dia 14 será realizada uma nova homenagem às vitimas, sendo que desta vez na Praça General Andréia, onde serão plantadas sete árvores, cinco Ipês roxo em homenagem às mulheres, e dois amarelos em homenagens aos homens. “Estamos em momento de reflexão, não podemos deixar essa tragédia cair no esquecimento. Que tudo isso sirva de alerta, assim outras vidas podem ser poupadas com esse trânsito tão violento”, falou Cláudio.

O prefeito também relatou que a Prefeitura não teve acesso a todo o inquérito policial, mas que eles irão solicitar ao Ministério Público que intensifique as investigações, porque, para eles, alguns pontos não foram bem esclarecidos. “Iremos estudar todas as possibilidades para entrarmos com recursos para que nenhum detalhe fique obscuro, pois tivemos grandes perdas”, destacou Batata.

Entre as pessoas que acompanharam a missa estava a dona-de-casa Gladizair Furtado, de 46 anos, que no dia do acidente estava indo para Pelotas fazer uma mamografia. “Retornar ao local pela primeira vez é muito triste. Passei toda a viagem nervosa e apreensiva”, relatou dona Gladizair.

A sobrevivente relembrou que no momento da colisão o microônibus teria girado duas vezes antes de virar. “Quando o ônibus parou, demorei para sair, havia sangue para todo o lado. Só pensava em achar meu celular para ligar para minha família”, disse a dona-de-casa.

Um dos organizadores da homenagem foi o funcionário público e coordenador da Defesa Civil de Santa Vitória, Marino Marcos Nicoletti, de 54 anos, pai da jovem Cristiane Nicoletti, de 22 anos, que faleceu após alguns dias do acidente, quando estava internada na Santa Casa do Rio Grande. “Elaboramos uma homenagem e não um protesto. Queremos deixar tudo na mão da Justiça, que a lei seja aplicada com rigor. Não foram só oito vidas perdidas, mas várias famílias destruídas”, desabafou Mariano.

Nicoletti também falou que outras vítimas não puderam ir à homenagem porque ainda estão impossibilitadas, tanto física quanto psicologicamente.
Também participaram da solenidade, José Brasil Pereira e seu filho Alex Sandro Rocha Pereira, respectivamente esposo e filho de dona Maria Elisabeth Rocha Pereira, 50 anos, que morreu no local do acidente. “É muito difícil, não se acha uma saída, uma explicação. Não tenho o que falar, somente peço paz e consciência no trânsito”, emocionado ressaltou seu Pereira.