Quando a OHL Brasil S.A, controlada pela espanhola OHL Concessiones, venceu a maior parte dos leilões do programa de concessão das estradas federais brasileiras, em 2007, o mercado se assustou com o preço das tarifas nos pedágios.

Ele foi considerado baixo demais para os padrões da época. Na rodovia Régis Bitten-court, que liga São Paulo a Curitiba, a companhia se comprometeu a cobrar R$ 1,36 por carro pedagiado. Já na Fernão Dias, entre São Paulo e Belo Horizonte, o valor ficou abaixo de R$ 1.

Essas tarifas representavam, em média, um terço das praticadas em outras rodovias nacionais, de acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, que regulamenta o setor. Por isso mesmo, muita gente duvidou da viabilidade econômica da OHL, cuja receita operacional líquida foi de R$ 1 bilhão nos nove primeiros meses de 2010.

Com os preços bem baixos, a estratégia da companhia era lucrar com o volume de veículos. Os números mostram que a estratégia está funcionando.

Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), em conjunto com a Tendências Consultoria Integrada, o fluxo de veículos das nove concessões da OHL – quatro estaduais e cinco federais – cresceu 40% no último trimestre de 2010.

Fluxo constante: com preços de pedágio até um terço mais
baixos que a média no País, a empresa duplicou lucro em 2010

O grupo rival CCR, que opera nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná e administra 2,3 mil quilômetros de malha rodoviária, registrou alta de 22,7%, no mesmo período. “O aumento do fluxo de veículos reflete o bom desempenho da economia do País”, afirmou à DINHEIRO, José Carlos Ferreira de Oliveira Filho, presidente da OHL.

A trajetória da OHL pode ser comparada à do Santander. Em 2000, o banco espanhol desembolsou R$ 7 bilhões pelo Banespa, um ágio de 281%. Muitos consideraram o preço pago alto demais. Somente no ano passado, a instituição financeira lucrou R$ 7,4 bilhões, mais do que Emilio Botín, dono da instituição, gastou na época da privatização.

Agora, a OHL volta a chamar a atenção do mercado ao informar que tem interesse em concorrer às concessões para a construção de aeroportos, caso o governo federal opte por fazê-lo, assim como à gestão de novas rodovias federais previstas para serem leiloadas ainda em 2010.

No ano passado, a OHL fez uma captação de R$ 1,1 bilhão em debêntures, lastreadas nas suas concessões estaduais. Os recursos foram usados em parte para alongar o perfil de sua dívida, de R$ 1,8 bilhão, praticamente toda concentrada no curto prazo. “Com a melhora do perfil da dívida, as ações da empresa se tornaram ainda mais atrativas”, afirma Sami Karlik, analista da Fator Corretora.

Em 2010, os papéis valorizaram-se 79,1%, um dos melhores desempenhos da bolsa. O lucro da companhia nos nove primeiros meses de 2010 foi de R$ 205,2 milhões, quase duas vezes mais do que o obtido no mesmo período do ano passado.

A empresa ainda prevê investimentos de cerca de R$ 622 milhões nas rodovias federais e R$ 4 bilhões nas concessões estaduais nos próximos quatro anos. O perfil agressivo da OHL pode mais uma vez influenciar todo o setor nas novas concessões que estão para acontecer este ano.

Os analistas de mercado, no entanto, acreditam que desta vez ela não deve ser a única a oferecer tarifas de pedágio mais baixas. “Espera-se uma agressividade maior por parte das outras empresas do setor nas novas concessões”, afirma Karlik.