TÓQUIO – Uma investigação da polícia local japonesa sobre um acidente envolvendo um veículo utilitário esportivo (SUV) da Toyota ameaça virar um vergonhoso escândalo para a fabricante de automóveis, a qual tem feito sucesso por sua reputação de confiabilidade.

Na terça-feira, a polícia de Kumamoto, uma pequena cidade no sul do Japão, acusou a Toyota de falhar em fazer o recall do tipo de SUV envolvido no acidente, em 2004, o qual machucou uma família de cinco pessoas, apesar de saber por anos a respeito de uma falha na montagem de navegação. A Toyota começou a realizar recall para o veículo, chamado Hilux Surf no Japão e 4Runner nos EUA, dois meses após o acidente.

A polícia pediu a promotores locais que investiguem três atuais e antigos executivos do escritório central da Toyota por possível negligência na decisão de não emitir o recall anteriormente, ou tomar medidas de segurança, disse Akitoshi Takahashi, um oficial na divisão de tráfego da polícia. Ele se recusou em identificar os três, mas disse que promotores estavam revisando o pedido antes de decidirem se registrariam as acusações. O escritório do promotor do distrito de Kumamoto recusou dar comentários.

A Toyota descobriu a falha de design em 1996, depois que queixas de clientes acordaram um inquérito interno, mas decidiu que o problema não era grande o suficiente para valer um recall, disse um porta-voz, Paul Nolasco. A empresa emitiu um depoimento na terça-feira dizendo acreditar que os “três indivíduos em questão responderam propriamente ao problema”, mas também prometeu cooperar com a investigação e fortalecer seu controle de qualidade.

Mesmo assim, “a Toyota enxerga isso como um caso sério e uma séria acusação”, acrescentou Nolasco.

Analistas disseram que a acusação improvavelmente viraria um grande problema para descarrilar o movimento da Toyota em tomar a General Motors e se tornar a maior fabricante de carros do mundo. Mas eles dizem que a falha em revelar o defeito prontamente, e consertá-lo, foi um embaraçoso passo errado para a companhia. Os analistas também relembram os problemas em outra empresa japonesa, a fabricante de caminhões e ônibus Mitsubishi Fuso. Suas vendas caíram, dois anos atrás, depois que autoridades concluíram que ela havia encoberto um defectivo eixo dianteiro que levou à morte de um pedestre.

“A marca Mitsubishi sofreu por um bom tempo como resultado de publicidade negativa”, disse Koichi Sugimoto, um analista da Nomura Securities em Tóquio. “O risco para a Toyota é que este incidente vire o mesmo tipo de questão pública”.

Sugimoto disse pensar que a Toyota seria melhor sucedida no controle de danos do que a Mitsubishi, parcialmente porque já fez o recall dos veículos em questão e porque os problemas da Mitsubishi foram mais espalhados.

Mesmo assim, a imagem da Toyota começou a apanhar no Japão, onde a acusação da polícia foi um item principal nos jornais de quarta-feira. O efeito foi particularmente agudo porque a Toyota tornou-se uma fonte de orgulho nacional aqui por seu sucesso em superar Detroit, centro americano de fabricação de carros.

“Uma falha que pode custar vidas”, lia uma manchete no Tóquio Shimbun. “A líder mundial ficou presunçosa?”

A Toyota disse que o defeito era, em parte, da montagem de navegação da vara de transmissão, a qual a disse que estava orientada para curva. A companhia relatou que um crescente número de queixas de clientes já havia estimulado o começo de reconsideração se a empresa emitiria um recall, e foi quando o acidente em Kumamoto aconteceu em agosto de 2004.

No acidente, um repentino problema de navegação causou a Hilux Surf a desviar-se para dentro do trânsito intenso e bater em outro veículo, disseram a Toyota e a polícia. O motorista da caminhonete não se machucou, mas todos os cinco membros da família viajando no outro veículo, incluindo três crianças, foram lesados, alguns seriamente.

Dois meses depois, a Toyota fez o racall da Hilux Surf e dois modelos de caminhonetes que usam uma semelhante montagem de navegação, a T100 e a Hilux, assim como a pickup Tacoma nos EUA.