Aproximadamente 300 indígenas da etnia Terena bloquearam a BR-163 em Campo Grande (saída para Cuiabá). Eles reivindicam demarcações de terras que consideram como suas na região da divisa entre Sidrolândia e Dois Irmão do Buriti (a sudoeste da Capital).

Os índios são da aldeia Córrego do Meio, em Sidrolândia, de onde saíram por volta das 10h da noite de ontem. Na Capital, chegaram por volta das 5h30 de hoje, quando começaram o manifesto, no quilômetro 498.

A estrada está bloqueada com galhos e pneus em chama.

“Queremos que o presidente Lula tome conhecimento da nossa luta. Em São Paulo [refere-se ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, responsável por julgar processos também em Mato Grosso do Sul] já deu uma andada grande, mas, não sai de lá”, diz o cacique Basílio Jorge.

Conforme o líder indígena, não há previsão para que os manifestantes saiam. Basílio Jorge explica que atualmente cerca de 4,6 mil pessoas moram na área indígena onde fica a Córrego do Meio atualmente, em um espaço de 2,4 mil hectares. Os índios querem que a área aumente para cerca de 15 mil hectares. “Temos dois estudos antropológicos feitos sobre as fazendas [que circundam a aldeia]. Os dois mostram que são terras de nossos antepassados, que são terras indígenas”, explica Basílio.

Em uma das fazendas próximas, existe, conforme estudo antropológico – explica Jorge – um cemitério indígena.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) acompanha o manifesto. Por enquanto, são aproximadamente 15 quilômetros de congestionamento no sentido Cuiabá (MT)/Campo Grande. A Polícia solicita que quem estiver no trafego e ainda não chegou no engarrafamento, que aguarde. Manifesto identico é feito na rodovia BR-262, em Miranda. Lá, seriam entre 500 e 600 Terena na estrada.

Conforme assessoria de imprensa da Governadoria, o Estado não se manifestará sobre o assunto, por dois motivos: “Porque é uma rodovia federal e porque é uma ação de indígenas [da alçada federal].”

A PF (Polícia Federal) diz que aguarda determinação da Funai (Fundação Nacional do Índio) para tomar atitudes. Através de sua assessoria de imprensa, informou que tomou conhecimento do fato pela mídia e que, geralmente, aguarda retorno da Funai para começar suas atividades com relação a questões indígenas.

A aldeia Córrego do Meio é uma das oito que forma a área indígena Buriti (na divisa entre os municípios de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia). Os indígenas já entraram com recursos por diversas vezes para conseguir o direito de retomada das terras consideradas indígenas, hoje, ocupadas por fazendeiros. Estudos antropológicos mostrariam que as atuais fazendas fazem parte do antigo território índio.

Um dos estudos é o do professor com pós-doutorado em Antropologia Levi Marques Pereira, que atua na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

Finalizado em 2003, a pesquisa “Perícia arqueológica, antropológica e histórica da área reivindicada pelos Terena para ampliação de limites da Terra Indígena Buriti, município de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, Mato Grosso do Sul, Brasil” foi desenvolvida para a Justiça Federal em Mato Grosso do Sul e constituiu-se em um trabalho de peritagem com o objetivo de avaliar se a área reivindicada pelos Terena para ampliação de limites da Terra Indígena Buriti era, de fato, de ocupação tradicional indígena, conforme estabelecido no Art. 231 da Carta Constitucional de 1988.

A conclusão da pesquisa, feita com todo rigor cientifico, é de que “as pesquisas arqueológicas, antropológicas e históricas atestaram tratar-se de uma terra de ocupação tradicional terena”.