A sociedade está a espera da vacina da Covid-19 mas para evitar as mortes no trânsito já temos a solução. Mas será que a sociedade brasileira realmente quer combater a impunidade com a aplicação da vacina do trânsito?
Aceitamos qualquer vacina
Pesquisas indicam que a maior parte da população brasileira está disposta a tomar a primeira vacina que aparecer no país contra a Covid-19. Nós sabemos que nunca produziram vacinas tão rapidamente, sem os anos de estudos e testes que normalmente levavam as anteriores. Mas parece que predomina a opinião de que vale a pena o risco.
Entretanto, quando comparamos a epidemia da Covid-19 com a da violência no trânsito surgem alguns números interessantes.
Considerando os dados do Estado de São Paulo, onde morreram praticamente 25% das vítimas de Covid-19 do país, verificamos que 89% dos óbitos ocorrem com pessoas acima de 50 anos.
Sendo que 52% com mais de 70 anos de vida. Podemos considerar razoável que essa seja a média nacional, já que São Paulo representa ¼ do total brasileiro.
Já no trânsito, 57 % das indenizações pagas por morte pelo DPVAT são de pessoas entre 18 e 44 anos. Período de grande vigor para produzir e uma das fases mais importantes da vida.
As indenizações pagas pelo DPVAT por mortes de crianças e adolescentes em 2019 contabilizou 583 casos de 0 a 7 anos e 944 para vítimas de 8 até 17 anos, num total de 1.527 óbitos. Pela Covid- 19, morreram no estado de São Paulo 126 pessoas entre 0 e 19 anos, sendo 54 até 9 anos de idade.
Como as mortes por COVID-19 em São Paulo representam 25% do total, é possível estimar que morreram em decorrência da violência no trânsito pelo menos 4 vezes mais pessoas entre 0-19 anos em 2019 que por COVID-19 em 2020.
A perda de vidas é sempre dolorosa, particularmente de crianças e jovens, já que contrariam a lógica natural. É evidente que poderíamos evitar mais mortes de crianças e jovens nas ruas e estradas que da Covid-19.
Bastaria usar a vacina para combater essa pandemia do trânsito que está disponível há décadas: o Código de Trânsito Brasileiro. Respeitar e aplicar a lei preserva vidas.
Infelizmente, o silencio da mídia no Dia Mundial das Vítimas de Trânsito, no dia 15 de novembro, sem quase nenhuma repercussão, confirmou mais uma vez de que combater a violência no trânsito não é prioridade da sociedade brasileira, das autoridades e mesmo da imprensa. Preferimos discutir as normas, falar em indústria da multa do que estancar a fábrica assassina de infratores contumazes.
A verdade é que resistimos mais a vacina contra a pandemia do trânsito do que da Covid-19. Enquanto isso nossos jovens morrem.
Rodolfo Rizzotto – Coordenador do SOS Estradas
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