Vida nova. É assim que a jornalista baiana Luciana Dias Kritski, de 35 anos, classifica seu atual momento pessoal e profissional. A repórter e apresentadora foi uma das vítimas do acidente ocorrido no dia 13 de dezembro de 2005, quando o ônibus da Viação Sandra, placa GQO 9847, que fazia a linha São João del Rei/Belo Horizonte, caiu em uma ribanceira de aproximadamente 40 metros. Eram cerca de 15h30 quando tudo aconteceu, na estrada de acesso a São Brás de Suaçuí, entre os quilômetros 11 e 12, próximo ao rio Paraopeba. 10 pessoas ficaram feridas, entre elas Luciana.
Segundo fontes da Polícia Civil, que retornavam de uma banca examinadora do Detran, em uma cidade vizinha, o caminhão Volkswagen, placa GXS 8452, invadiu a contramão, esbarrando na parte dianteira esquerda do ônibus, que caiu no abismo. Além do motorista e do auxiliar, aproximadamente 25 passageiros estavam no veículo. A maioria dos feridos teve lesões leves, sendo levados para hospitais da região. A situação mais grave foi a do motorista, José Marcos da Costa, de 37 anos, e da jornalista, que ficaram presos às ferragens.
Luciana ficou internada no Hospital e Maternidade São José por 29 dias, seguindo o tratamento para Salvador, onde descobriu ter fraturado três vértebras da coluna lombar. Ela também teve fissura na omoplata esquerda, 11 costelas fraturadas e problemas nas duas pernas, além de um edema na medula e perfuração no pulmão, que precisou ser drenado.
Atualmente, a jornalista mora em Canoa Quebrada, no Ceará, onde seu irmão mantém alguns negócios. “Não quis continuar em Salvador porque as cobranças lá eram grandes. A todo instante me perguntavam quando eu me recuperaria totalmente”, afirmou. “Estou feliz de verdade. Moro de frente para o mar. Acordo bem todos os dias, caminho na praia com minha linda bengala, tomo água-de-coco no quintal da minha casa e pinto, pinto muito. À tardinha, faço fisioterapia”, contou.
Em entrevista ao jornalista Carlos Pacelli, Luciana Dias revelou que, após o acidente, conheceu o dono da empresa Sandra: “Ele me entregou o que havia sobrado na minha bolsa, ainda na observação do hospital. Sei que foi minha mãe quem assinou os papéis de internação, se responsabilizando pela conta do hospital. Não foi fácil, desde o início, sentir a empresa tomando conta da situação. Tivemos vários problemas, que na época minha mãe não me contava, por causa do meu estado”, declarou.
Na época do desastre, a jornalista apresentava o programa Oi Brasil, na Rede Bandeirantes, em rede nacional. “Deixei o programa, e meu salário era ótimo… Perdi vários contratos publicitários, deixei de participar da transmissão do carnaval da Band, já por dois anos consecutivos, e, pelo que sabemos, para sempre. Minha carreira sofreu um impacto por causa do acidente”, relatou.
De acordo com a repórter, a empresa Sandra não se responsabilizou pelo acidente: “Infelizmente, não. No começo eles fizeram algumas coisas, reembolsou alguns itens, mas me deixaram em meio ao tratamento fisioterápico, pós-trauma, e ao tratamento psicológico. Não se responsabilizaram pelas cirurgias que foram necessárias, nas minhas pernas e joelhos. Também pararam de reembolsar os gastos com remédios, exames, médicos, etc. Tudo isso a partir de setembro do ano passado”, afirmou.
Luciana conta que ainda mantém o tratamento e anda com dificuldades: “Tomo muitos remédios; tenho que fazer exames, consultas, viagens. O que mais me assusta é que eles [a empresa Sandra] sabem que isso é de responsabilidade da viação, mas pararam de falar conosco há muitos meses e, de uma forma inacreditável, pediram para entrarmos na Justiça, já que eles estão acostumados a ganhar ações desse tipo”, lamentou.
A jornalista disse ainda que recebeu informações de que outros 16 passageiros, que estavam no ônibus acidentado, estão brigando na Justiça por nunca terem recebido nenhum apoio da Sandra. “Comigo, no começo, foi diferente, provavelmente pela minha condição profissional. Mas existem donas de casa, lavradores, trabalhadores de vários segmentos que tiveram sua vida modificada, sem receber sequer uma palavra de consolo. É inacreditável; mesmo não cumprindo as leis de segurança, eles saem ilesos? Como fica a consciência? Como fica a reputação, a imagem de uma empresa tão próxima a todos da região?”, questionou. “Acredito que a minha ação [na Justiça] pode ajudar outras tantas pessoas e famílias, também vítimas da Viação Sandra e de outras empresas. Estou sendo representada por meus advogados”, completou.
Luciana reivindica, da empresa Sandra, o ressarcimento material do que foi gasto e das despesas que ainda terá: “também quero que mensurem o que deixarei de trabalhar nos próximos 20 anos, pelo menos”, revelou. A jornalista está sendo representada pelo escritório Camargo Aranha, de São Paulo, um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil. A Viação Sandra está sendo acionada por 16 passageiros do acidente em São Brás do Suaçuí e por vítimas de outros acidentes e ainda responde por uma notificação do Ministério do Trabalho, por não cumprir a lei de inclusão em seus quadros funcionais, de 3% de portadores de necessidades especiais. Nossa reportagem entrou em contato com a empresa Sandra, que informou a intenção de só se pronunciar sobre o caso oportunamente.