De acordo com a delegada Camila Alves, coletivo não teve problemas nos freios, conforme disse o motorista; sinistro (acidente) matou 42 pessoas, em novembro de 2020
O laudo do sinistro (acidente) entre um ônibus e uma carreta bitrem, que resultou em 42 pessoas mortas e 10 feridos na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho (SP-249), em Taguaí (SP), no dia 25 novembro de 2020, apontou que não foi identificada falha nos freios do ônibus. A perícia completa foi revelada no Fantástico neste domingo (21).
Para a polícia e em entrevistas, o motorista Mauro Aparecido de Oliveira havia falado que não tentou ultrapassar outro veículo no trecho onde era proibido e que, segundo ele, houve uma falha mecânica.
“Não tem como falar que o freio não falhou porque o freio falhou. Porque na hora que eu mais precisei, que eu pisei pra segurar mesmo, o freio não seguro”, disse Mauro.
Novas informações, contudo, revelam detalhes do acidente na rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, no interior de São Paulo. Peritos do Instituto de criminalística de São Paulo analisaram a estrada e não acharam buracos ou qualquer outra deformação na pista que pudessem ter provocado o acidente.
Os peritos verificaram também os freios do lado esquerdo do ônibus e desmontaram as rodas do lado direito para uma checagem completa.
A conclusão do laudo oficial foi de que: “mangueiras, válvulas e demais componentes estavam íntegros e não foram encontrados vestígios que indicassem falha no sistema de freios”.
“Na verdade, infelizmente nesse acidente houve uma falha humana”, explicou a delegada Camila Rosa Alves.
Animação em 3D
27 pessoas prestaram depoimento à polícia e o inquérito está em fase final. Com base nas informações da investigação e nos dados reais do local do acidente, os peritos do IC fizeram uma reconstituição em 3 dimensões da tragédia.
Em uma curva onde é proibido ultrapassar, o ônibus conduzido por Mauro Aparecido de Oliveira estava atrás de outro ônibus e de um caminhão.
Dados do GPS revelam que, naquele momento, Mauro estava acelerando. Cinco minutos antes, ele dirigia a 49 quilômetros por hora e, depois, praticamente não tirou o pé do acelerador.
Na curva, o ônibus que estava à frente foi um pouco para o acostamento. Mauro diz que foi naquele momento que ele pisou no freio.
“Não havia falha no freio. Houve uma ultrapassagem em local proibido de fato, que foi uma ação deliberada do motorista”, detalhou a delegada.
Na pista contrária havia outro caminhão, que tentou sair da estrada. Naquele momento, o ônibus estava a 89 quilômetros por hora.
Com a batida, a lateral do caminhão se desprendeu e, como se fosse uma faca, “rasgou” o ônibus. O motorista do caminhão morreu na hora, 41 passageiros que estavam no ônibus também morreram e 10 ficaram feridos. Todos iam para o serviço. O acidente aconteceu exatamente às 6h35 da manhã.
A maioria das vítimas tinha saído da cidade de Itaí e ia trabalhar numa fábrica de roupas em Taguaí, a 40 quilômetros de distância.
Defesa nega
O advogado de Mauro, Hamilton Antônio Gianfratti, diz que há testemunhas que comprovariam que o freio falhou.
“Haverá um conflito probatório nos autos e vai caber obviamente ao juiz discernir essa questão. Nós temos testemunhas que comprovam que não houve, por exemplo, uma ultrapassagem.”
O advogado deve pedir o perdão judicial, ou seja, que a Justiça deixe de aplicar a pena, caso Mauro seja condenado.
“O Mauro, no momento que está vivendo sob intenso sofrimento, sob medicação. E havia uma relação subjetiva de afetividade com todos os componentes do ônibus. Isso favorece o perdão judicial.”
O ônibus pertencia a uma empresa chamada “Star Turismo”. Ela não tinha autorização para fazer o transporte intermunicipal e a perícia constatou uma outra irregularidade.
“Os pneus do veículo estavam carecas. Não foi decisivo no acidente, mas comprometia a segurança dos passageiros”, afirmou a delegada.
Em nota, o advogado da Star Turismo disse que a manutenção dos ônibus era realizada semanalmente e que a empresa ainda não foi notificada sobre a suspensão da autorização para fazer o transporte intermunicipal
As vítimas trabalhavam para 3 empresas que funcionavam na mesma fábrica de roupas. Segundo a polícia, os donos contrataram a empresa de turismo e devem ser indiciados por colocar a vida dos funcionários em perigo.
O Fantástico procurou o advogado das empresas da fábrica de roupas, mas ele não respondeu. O inquérito policial deve ser concluído em breve e encaminhado ao Ministério Público.
Sobreviventes e parentes dos mortos estão recebendo acompanhamento médico e psicológico, para tentar superar o trauma.
Mesmo trajeto em 8 anos
Segundo as investigações, o motorista do ônibus levava e trazia os trabalhadores de uma cidade para outra havia 8 anos.
Além do resultado da perícia, que mostra que o freio não falhou, a polícia usa outra prova, que é a constatação do local do acidente para afirmar que a versão do motorista não é verdadeira.
No depoimento, Mauro alega que não desviou o ônibus para a direita porque pensou que aqui havia uma ribanceira, só que no trecho não há ribanceira.
Como Mauro fazia o caminho todos os dias, ele conhecia bem o percurso, a investigação aponta que o motorista do ônibus poderia ter desviado para a direita.
Com informações do G1