Coordenador de festas, Fabrício Bríglia: “Fico três finais de semana sem beber para dirigir depois das festas”
A Lei 11.705 – “Lei Seca” completou ontem seu 1º mês de vigência em todo o país. Os 30 dias de tolerância zero para combinação de consumo de bebida alcoólica e direção estão refletindo no volume de ocorrências dos Distritos Policiais com plantão nos finais de semana.
Somente no 4º DP, a média de Auto de Prisão em Flagrante (APF) antes da Lei Seca era de 12 por mês. Entre janeiro e maio foram registrados 64 por embriaguez ao volante, somente no período de vigência da tolerância zero (de 20 de junho até agora) foram 16 APFs. Segundo a delegada do 4º Distrito, Francilene Lima, em 26 dias o número de APFs superou a média mensal.
No 1º DP, até a semana passada foram registrados 32 flagrantes por embriaguez ao volante. Desse total, segundo a delegada Cândida de Magalhães, a maioria dos motoristas era formada por homens.
Conforme dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), até a semana passada foram 50 flagrantes, o que corresponde ao mesmo número de CNHs apreendidas. Estes números incluem dados do 1º DP, 4º DP e DAT (Delegacia de Acidentes de Trânsito).
O diretor-geral do Detran, Cícero Batista, afirmou que normalmente o balanço do número de acidentes e ocorrências atendidas é feito a cada dois meses, mas há expectativa para que após o primeiro mês da Lei Seca esta análise ocorra até o fim de agosto. Mas adiantou que já observou como resultado da Lei Seca, a conscientização da população.
BAFÔMETROS – O Detran dispõe de dois bafômetros, sendo um na equipe de plantão 24 horas e outro cedido para Polícia Militar. A Polícia Rodoviária Federal tem dois aparelhos e a Secretaria Municipal de Trânsito, um.
“Nenhuma ocorrência fica descoberta”, garantiu o diretor do Departamento, Cícero Batista, acrescentando que a multa para quem dirigir após ingerir bebida alcoólica é de R$ 957,00. Além disso, o motorista tem a CNH apreendida e ainda fica 12 meses sem autorização para dirigir.
Pronto Socorro registra redução de atendimentos
Menos de 50 pessoas deram entrada no Grande Trauma do Pronto Socorro Francisco Elesbão, no primeiro fim de semana de julho. A redução de atendimento avaliada pela direção do hospital é de 40% em relação ao primeiro fim de semana de junho.
O diretor da unidade, Douglas Henrique Teixeira, acredita que ainda é cedo para falar que isso tem relação direta com a Lei Seca, mas admitiu que a redução neste período foi significativa. “Uma análise mais precisa sobre o reflexo da lei junto aos atendimentos no Pronto Socorro será possível em agosto”, informou.
Vendas de bebidas em bares caem depois da lei
Acostumado a vender até 200 caixas de cerveja por semana, o dono de um bar e restaurante no bairro 31 de Março, José Nicodemos Góes (Dedinho), afirma que após a Lei Seca, o movimento reduziu em 30%.
Segundo ele, era tradição dos clientes antigos chegarem ao bar às 19 horas e só sair depois da meia-noite. Agora, grande parte da clientela, segundo constatou, vai ao local apenas para jantar e volta para casa. “Os clientes dizem que estão com medo e não vão beber mais como antes. Essa lei prejudicou muita gente”, reclama.
Dono de uma choperia no São Vicente, Hamilton Rodrigues disse que a solução para driblar a redução das vendas foi colocar à disposição os dez carrinhos de chopp delivery, antes destinados para serviços de festas, também para quem quer beber cerveja em casa, sem precisar sair. Antes da lei ele vendia até dez barris de chopp, agora só vende oito.
“Os clientes telefonam e entregamos o chopp em casa”, disse o empresário. Ele afirma que a lei prejudicou o comércio de bares e restaurantes, mas defende que se é em favor da vida não pode contestar.
Amigos fazem rodízio semanal para beber cerveja
O coordenador de festas Fabrício Bríglia está há três finais de semana sem ingerir bebida alcoólica. O motivo é a Lei Seca. Ele explica que não deixou de se divertir e continua indo às boates com os amigos, bebendo somente refrigerante e água.
Para deixar de ser apenas o motorista dos amigos, Bríglia já conversou com a turma que sempre vai às festas com ele e pediu que outros colegas se sacrifiquem também. Desta forma, a proposta foi de que no grupo de cinco amigos, um fique sem tomar bebida alcoólica em cada fim de semana para garantir a direção do veículo. “É muito chato ficar sem beber. Sou acostumado a sair às 23 horas e só voltar para casa às 4h30 e sempre bebia”, disse.
Também consciente da Lei Seca, o jornalista Bruno Wilemon deixou certa vez de ir para boate com a namorada porque não tinha quem dirigisse o veículo no retorno da festa. “A festa que iríamos o ingresso custava R$ 35,00 e a bebida era liberada. Não iria pagar um valor tão caro para não beber nada”, disse.
Sindicato dos taxistas aponta aumento de 10% no número de corridas à noite
O táxi é a opção para quem não quer correr o risco de ser penalizado dirigindo depois de ingerir bebida alcoólica. Pelo que diz o presidente do sindicato da categoria, Jurandir Pereira, muita gente já está deixando o veículo em casa e pagando corrida de táxi para retornar das festas. Ele calcula que desde o início da Lei Seca o movimento aumentou em 10%.
Dos 376 táxis convencionais em Boa Vista, 20% trabalham à noite. Um deles é Alfredo Silva Neto, que aumentou o número de corridas em 40%. Segundo ele, durante a semana a maior procura é por clientes que ficam em bares no Complexo Ayrton Sena. Porém nos finais de semana, há pedidos de corridas de várias partes da cidade.
Cidade já conta com serviço de transporte para quem não abre mão da “cervejinha”
Coincidindo com um mês de vigência da Lei Seca, um grupo de oito amigos conseguiu ter visão empreendedora sobre a nova realidade que a lei impôs à sociedade e resolveu se juntar para trabalhar com serviços de transporte para aqueles que não abrem mão de um “happy hour” e da “cervejinha” de fim de semana.
Eles se denominaram “Anjos da Madrugada” e começaram a trabalhar neste último final de semana, com a divulgação de seus serviços em bares e restaurantes e com alguns atendimentos de transporte solicitados pelos primeiros clientes.
Segundo um dos integrantes do grupo, Gladston Obdaia, o serviço funciona da seguinte forma: a equipe disponibiliza alguns números de telefones, pelos quais os clientes podem solicitar o transporte, alguns integrantes do grupo vão até onde o cliente está e o levam para casa no próprio carro do cliente. “Da casa do cliente, recebemos o ‘resgate’, uma das pessoas do grupo, que vai pegar o motorista de moto”, explicou, garantindo que o grupo entrega o cliente com segurança em casa, deixa o carro ou a motocicleta na garagem da sua casa, indo embora em seguida, no veículo do grupo. “Tudo isso ao preço promocional de R$ 15,00”.