Enquanto o total de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito diminuiu em 19,86% na Capital, os acidentados vindos do Interior cresceram em 19,1%. Os dados foram divulgados pelo IJF e compararam o primeiro mês de vigência da Lei Seca, com o mês anterior. O superintendente do hospital culpa a fiscalização precária nos outros municípios
No último sábado, o zelador Antônio Odanilton resolveu beber mesmo sabendo que dirigiria depois. Perdeu o controle da moto em uma curva e acabou passando o restante do fim de semana no Instituto José Frota (IJF). Morador de uma área rural em Maracanaú, Odanilton garantiu que não vai mais unir o álcool ao trânsito. “Foi meu primeiro acidente e agora eu vou tomar mais cuidado. Mas é que lá onde eu moro não tem fiscalização, aí fica mais fácil pra quem quer driblar a lei”.
Conforme dados divulgados ontem pelo IJF, casos como o de Odanilton aumentaram o número de atendimentos a pacientes vindos de outros municípios em 19,1%, mesmo depois de a Lei Seca ter entrado em vigor, em 20 de junho. Na contramão, o total de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito em Fortaleza diminuiu 19,86%. Com isso, o número de atendimentos de 20 de junho a 19 de julho chegou a 824, somente 5,5% a menos que no período de 20 de maio a 19 de junho, mês anterior à lei.
No entanto, quando se compara o total de atendimentos de 20 de junho a 19 de julho de 2008 com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 23%. Conforme Wandemberg Rodrigues, o impacto é bem evidente. Mas Fortaleza ainda consegue baixar mais o índice, enquanto o Interior faz o caminho contrário. “Além da questão das férias de julho, há pouca fiscalização nos outros municípios”, afirmou. Ele destacou que existe um flagrante desrespeito às leis de trânsito no Interior causado exatamente pela falta de fiscalização.
Mesmo aumentando a quantidade de vítimas vindas do Interior, houve uma queda na gravidade dos pacientes que chegam ao IJF. “Chegamos ao ponto de passarmos 24 horas do último domingo de julho sem nenhuma fratura exposta, quando o habitual é 16 a 18 pessoas”. Mas um dado que começou a preocupar foi o aumento em 17% das vítimas de acidentes com bicicletas. “É um padrão. O que tem fiscalização diminuiu. O que não tem, cresceu. Mesmo assim a lei tem tido efeito”, completou Wandemberg.
De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a fiscalização no Interior deve aumentar em breve. Quando a Lei Seca entrou em vigor apenas dois bafômetros estavam funcionando. Chegaram seis novos equipamentos no fim de julho. E o Detran ainda se prepara para comprar mais 20. Em 45 dias, o processo de licitação terá sido feito e os bafômetros devem estar chegando. O objetivo é promover em outras cidades as mesmas operações realizadas pelo Detran na Capital.
Municipalização
Um outro fator que contribui para o grande número de acidentados que vem de fora de Fortaleza é o baixo índice de municipalização do trânsito. Apenas 25% dos municípios cearenses possuem seu trânsito municipalizado (45 cidades), de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), são apenas quatro: Caucaia, Maracanaú, Maranguape e Pacatuba.
Segundo o gerente do Núcleo de Fiscalização do Detran, Pedro Forte, o órgão vem mostrando aos prefeitos a necessidade de municipalizar. Como medida de apoio, mais 50 agentes de trânsito deverão ser destacados para o Interior.
E-MAIS
Antes da vigência da Lei Seca, o Detran iniciou uma campanha para incentivar as prefeituras a municipalizarem o trânsito. Dos 184 municípios do Estado, apenas 46 fiscalizam o próprio trânsito.